Artigo Nº 10, Tav-Shin-Mem-Tet,
1988/89
O versículo diz
(Génesis 28:12), “Ele teve um sonho e eis, uma escada foi posta sobre a terra
com seu topo alcançando os céus. E eis, os anjos de Deus subiam e desciam sobre
ela." Devemos entender o que insinua que a escada tenha de se apoiar
diagonalmente, pois vemos que se uma escada é colocada recta, é impossível
subi-la. RASHI trás a explicação de nossos sábios nas seguintes palavras,
"Rabi Elazar disse em nome de Rabi Yosi Ben Zimra, ‘Esta escada se apoia
em Beer Sheva e metade do seu declive chega a frente do Templo.'"e metade
do seu declive alcança a frente do Templo.’” Isto significa que a escada tinha
de se apoiar diagonalmente. O que nos diz isto no trabalho? Também, devemos
entender a questão dos interpretes, "Por que diz, 'Anjos de Deus subiam' e
depois 'desciam'? Devia estar escrito ao contrário.”
Para entender
tudo isto, devemos entender o que é o trabalho na criação, que nos é dado na
observação da Torá e Mitsvot [mandamentos/boas acções]. Afinal, o propósito da
criação era fazer o bem às Suas criações. Portanto, por que precisamos deste
trabalho, como está escrito, "Eu trabalhei e achei, creia; Eu não
trabalhei e achei, não creia." Por quê este trabalho e o que ele nos
acrescenta no propósito da criação, que é fazer o bem às Suas criações?
Segundo aquilo
que está escrito no (no princípio do) livro Árvore da Vida, em prol de
"trazer a luz a perfeição das Suas acções," houve a correcção do
Tzimtzum [restricção]. Ou seja, ocultação e esconderijo foram colocados no
lugar de Malchut, que é chamada "receber em prol de receber" e no
lugar da vontade de receber, chamada Aviut [densidade], houve a correcção da
Masach [tela]. Significa isto que uma pessoa não receberá mais que ela pode
receber com a direcção de doar. É isto que nos faz trabalhar e o por quê de
nossos sábios dizerem especificamente, "Eu trabalhei e achei, creia."
Mas o que é o
trabalho? Por natureza, o homem nasce com uma vontade de receber para seu
próprio bem. Uma vez que houve uma Tzimtzum e ocultação sobre esse Kli [vaso] e
a pessoa precisa de trabalhar em prol de doar, porque isto contradiz a
natureza, isso é trabalho, uma vez que é trabalho duro. Portanto, se alguém
disser que ele trabalha pelo Criador mas não sente esforço, isso deve ser que
ele trabalha para seu próprio bem e não pelo bem do Criador. Quando alguém
trabalha pelo bem do Criador, o sinal é que o corpo, chamado "vontade de
receber," lhe resiste. É por isso que é difícil trabalhar em prol de doar
sozinhos, até ao ponto que precisamos de ter a ajuda do Criador. Foi dito sobre
isto, "A inclinação do homem o supera todos os dias. Não fosse a ajuda do
Criador, ele não seria capaz de superá-la." Sucede-se que este trabalho é
considerado que devemos trabalhar pelo bem do Criador.
Mas nós
precisamos de trabalhar pelo bem do Criador não realmente pelo Seu bem, como se
o Criador precisasse do trabalho do homem. Em vez disso, isto se adequa à
perfeição das Suas acções, pois se a pessoa trabalhar pelo bem do Criador e não
pelo seu próprio bem, ela se torna adequada para receber o deleite e prazer sem
qualquer vergonha, que é chamado o "pão da vergonha", uma vez que ela
recebe com a intenção de doar e não para receber para seu próprio bem.
Contudo, na ordem
do trabalho, quando a pessoa deve alcançar o grau de Dvekut [adesão], como está
escrito, "e se apegar a Ele," a pessoa não consegue subir só com uma
perna, mas precisa de duas pernas, esquerda e direita. Isso é como disseram
nossos sábios (Sotah 47), “A esquerda sempre deve afastar e a direita
aproximar." Devemos interpretar que por um lado, a pessoa deve ver que ela
está a ser afastada do Criador, ou seja ver quão longe ela está da Dvekut com o
Criador, chamada "doar" e que ela está imersa no amor próprio.
E quanto mais ela
quer aumentar o trabalho de doação, mais ela vê que ela está em retirada, ou
seja que o mal dentro dela se intensifica cada dia. Finalmente, ela decide que
é impossível ser capaz de se libertar do amor próprio e diz que a menos que o
Criador a ajude, ela está perdida. Ela diz, "Agora eu não preciso de
acreditar que o Criador ajuda." Em vez disso, agora, ela é recompensada
com a Dvekut com o Criador, ela dirá que ela vê dentro da razão que o Criador a
ajudou.
Isto é como está
escrito (Salmos 127), “A menos que o Senhor construa uma casa, seus
construtores trabalharam nela em vão." Não há nada que ela possa fazer
senão pedir ao Criador para a ajudar a sair do controle da vontade de receber.
Por vezes, ela
não tem sequer a força para pedir ao Criador para ajudá-la. Isto é chamado a
"perna esquerda," quando ela caminha no caminho de ver como ela está
cheia de defeitos e corrupções. Como é sabido, "Esquerda," no
trabalho, significa que requer correcção. Isto é chamado "A esquerda
sempre deve afastar."
A outra perna é
chamada "direita," uma vez que algo que não requer correcção no
trabalho é chamado "direita." Ou seja, a pessoa deve saber que ela
tem um grande previlégio em estar entre os servos do Rei. Isto é, ela deve
acreditar que o pouco tempo que ela pode dar do seu trabalho que ela faz para
suas próprias necessidades, a se engajar na Torá e Mitsvot, que é chamado
"o trabalho do Criador," ela não diz que está fora da sua força que
ela queira trabalhar no trabalho sagrada. Em vez disso, o Criador lhe deu um pensamento
e desejo para ter algum apoio na Torá e Mitsvot e ela fica feliz por ter sido
recompensada com o previlégio de fazer algum serviço pelo Rei.
Ela agradece ao
Criador por isto porque ela vê que muitas pessoas no mundo não têm tamanho
previlégio e ela sente que está próxima do Criador. Este é o sentido de "e
a direita aproxima," ou seja que a perna direita é que ela se sente a si
mesma próxima do Criador.
Precisamente
sobre duas pernas podemos nós subir e chegar ao palácio do Rei. Com isto
podemos nós interpretar o que está escrito, "e eis, uma escada foi posta
na terra com seu topo alcançando os céus." Ou seja, a escada, pela qual
nós subimos até ao palácio do Rei, tem duas extremidades. 1) "Uma escada
foi posta na terra." Isto é a linha esquerda, chamada "terra." A
pessoa deve ver que ela é colocada no profano, imersa em amor próprio, como em,
"a esquerda afasta." Depois há espaço para orar do fundo do coração,
pois então a pessoa olha dentro da sua razão para como ela não consegue fazer
coisa alguma pelo bem do Criador e só Ele a pode libertar do governo do mal
nela. Sobre isto se diz, "Não fosse a ajuda do Criador, ele não seria
capaz de superá-la." 2) Está escrito, "seu topo alcança os
céus." A outra extremidade da escada está nos "céus," como se
ela tivesse completa plenitude porque ela está contente com sua parte, no
pouquissimo contacto que ela tem com a obra do Criador. Ela sente que está
feliz com isto, uma vez que é um grande previlégio ser recompensado com servir
ao Rei e falar com Ele até um momento por dia, isto é suficiente para ela estar
animada e ela agradece ao Rei por isto e O louva.
Sucede-se que
esta escada, sobre a qual podemos subir para o palácio do Rei, se encontra
diagonalmente. Ou seja, o fundo da escada, que é "uma escada posta na
terra," não está realmente em baixo, como uma escada que se encontra
recta, ou seria impossível subi-la, como vemos na corporalidade. Isto mostra
que até na corporalidade a escada deve se apoiar diagonalmente e o declive
indica que "acima" não é realmente acima.
E similarmente,
"abaixo" não é realmente "abaixo." Em vez disso, como foi
dito, quando "seu topo alcança os céus," quando a pessoa caminha na
linha direita, que é plenitude, esse não é o fim. Em vez disso, ela também deve
caminhar "na terra," ou seja ver que ela ainda está na terra. E
quando ela caminha "na terra," que é a esquerda, ela também deve
saber que ela precisa de caminhar na direita, que é chamada "seu topo
alcançando os céus." Isto é, embora ambos estados sejam contraditórios e
opostos, eles não estão assim tão longe um do outro, criando uma longa
distância para caminhar de uma extremidade à outra. Isto é, nós devemos
caminhar em ambas as linhas e isto é chamado "um declive," ou seja
que isso mostra que devemos caminhar em duas linhas.
Isto deriva da
correcção chamada Tzimtzum Bet [Segunda Restrição], que é a associação da
qualidade de misericórdia com julgamento, como disseram nossos sábios,
"Primeiro, Ele criou o mundo com a qualidade de julgamento," chamada
"linha recta, onde há acima e abaixo, chamado 'alta importância,' que é a
mais pura e que é considerada a Sefirá Kéter, a mais pura, onde não há
carências. Abaixo significa de baixa importância, a mais densa, considerada a
Sefirá Malchut, que é a vontade de receber. Ele viu que o mundo não podia
existir, então Ele associou com a qualidade de julgamento." Uma vez que
Malchut da qualidade de julgamento, chamada "vontade de receber," é a
raiz dos seres criados, foi difícil invertê-la para trabalhar em prol de doar. Isto
é chamado "o mundo não podia existir."
Tal como ele diz
no "Prefácio para a Sabedoria da Cabala” (Item 58), “‘Ele viu que o mundo
não podia existir’ significa que deste jeito, era impossível para Adão, que
viria a ser criado desta Behina Dalet [Quarta Fase], adquirisse acções de doação.
Foi por isso que Ele 'colocou Midat Ha Rachamim [qualidade de misericórdia]
primeiro e a associou com a Midat HaDin [qualidade de julgamento].’ O Emanador
elevou Midat Ha Din, que é a força de conclusão feita na Sefirá Malchut e a
elevou até Biná, Midat HaRachamim. Ele as associou uma com a outra e portanto
permtiu ao Guf [corpo] de Adão, que surgiu de Behina Dalet, fosse integrado com
a qualidade de doação, também.”
Sucede-se que
especificamente com a subida de Malchut até Biná, o mundo pode existir. O ARI
chama à subida de Malchut até Biná, "uma linha diagonal." Ele diz que
este é o sentido do que está escrito (no Estudo das Dez Sefirot, Parte 6),
“Depois da própria Tzimtzum ter colocado uma Parsa [partição], que é o sentido
de 'Haja um firmamento no meio da água e que ele divida entre a água e a
água.’”
Este é o sentido
da [letra] Alef [א], pois
a linha da Alef é diagonal, tal como ele diz (no Estudo das Dez Sefirot, Parte
6), “A conexão dos dois pontos no Tzimtzum é a linha da Alef, como
esta [א]. E a primeira
qualidade de cada grau é uma Yod ['], sobre a linha de cima, que
inclui Kéter e Chochmá do grau, como em “água superior,” como esta Yod ['].”
Portanto, a associação da qualidade de misericórdia com julgamento é chamada “uma
diagonal.”
Esta é a raiz e o
por quê de no ramo corpóreo, também, nós subirmos uma escada somente quando ela
se apoia diagonalmente, considerado Tzimtzum Bet. Quando a escada se
apoia recta, considerada “a qualidade de julgamento,” ela não pode existir.
Contudo, nós
devemos saber que as duas extremidades são consideradas “duas escrituras que se
negam uma à outra até que a terceira escritura venha e decida entre elas.” Ou
seja, as duas linhas são necessárias, pois com ambas, nós alcançamos a linha
média, pois não pode haver uma linha média a menos que hajam duas linhas antes
dela. Portanto, quando há uma disputa, pode ser dito que “a terceira vem e
decide entre elas e faz a paz.” Mas se não há disputa, não há necessidade de
fazer a paz. Isto é, se nós queremos ter paz, primeiro devemos produzir uma
disputa, ou não há espaço para a paz.
Todavia, a
questão é, Por que precisamos da paz? Seria melhor, ou assim entendemos, se não
houvesse disputa nem necessidade de haver paz. Este é o senso comum.
A resposta é que
dado que temos estes dois opostos na nossa natureza, sucede-se que esta disputa
é a realidade, pois a natureza nos fez desse jeito. Ou seja, da perspectiva do
propósito da criação, nós temos uma natureza que o Criador deu um desejo de receber
prazer e deleite. E da perspectiva da correcção da criação, nós devemos avançar
na direcção oposta, nomeadamente doar, como o Criador, “Tal como Ele é
misericordioso, também tu sê misericordioso.”
Sucede-se que
esses dois extremos estão em nós. E aquilo que dizemos é que a disputa é necessária,
tal como disseram nossos sábios, “A pessoa sempre deve incitar a boa inclinação
sobre a má inclinação.” Como interpretou RASHI, “Ele deve travar a guerra com
ela.” Significa isto que a pessoa deve revelar o mal nela. Ela não produz mal
através da disputa. Em vez disso, o mal dentro de nós está oculto e se a luz de
Kedushá [santidade] lá entrar, a vontade de receber prontamente desperta e
recebe tudo para si mesma. Isto irá imediatamente para o lado de Tuma’a [impureza]
e Klipot [cascas/peles].
Por esta razão,
nós devemos travar a guerra, pela qual o mal sairá do seu esconderijo e lutará
com a boa inclinação.
Sucede-se que
especificamente através da guerra ela se torna revelada, dado que ela quer
combater a boa inclinação. Quando ela mostra sua verdadeira face, a pessoa vê
que “alta montanha” ela é e percebe que o único modo é pedir ao Criador para a
ajudar a subjugar o mal e ser capaz de trabalhar somente com a direcção de
doar.
Com isto nós
vamos entender o sentido de “duas escrituras que se negam uma à outra até que
venha a terceira e decida entre elas.” As duas extremidades da escada mostram
que elas são opostas uma da outra. Por um lado, ela está “posta na terra,”
indicando a humildade, quando ela vê dentro da razão quão longe ela está do
Criador porque ela está imersa em amor próprio, que é disparidade de forma.
Por
outro lado, “seu topo alcança os céus,” como se ela tivesse plenitude completa
e está feliz com sua parte e deleitadada como se ela estivesse nos céus e não
tivesse conexão com o profano. Isto é considerado a escada se apoiar
diagonalmente. Este é o sentido das palavras, “duas escrituras que se negam uma
à outra até que venha a terceira e decida entre elas.”
Isto é a linha
média. Ou seja, essas duas linhas produzem uma terceira escritura, que é o
Criador, chamado “linha média.” Isto é como disseram nossos sábios (Nidá 31a),
“Há três parceiros no homem: O Criador, seu pai e sua mãe. Seu pai semeia o
branco, sua mãe semeia o vermelho e o Criador coloca dentro dele um espírito e
uma alma.”
Nós devemos
interpretar “seu pai dá o branco.” Seu pai é o primeiro discernimento no
trabalho, a linha direita, que é plenitude. O segundo é a linha esquerda, ou
seja uma carência. Isto é chamado “dá o vermelho,” que é uma carência. Nessa
altura, o Criador dá a alma e o espírito, pois então o Criador lhe dá a
assistência necessária, como está escrito no Zohar, “Ele é assistido por uma
sagrada alma.” Isto é chamado “o Criador dá o espírito e a alma.” Isto
interpreta aquilo que RASHI diz, “Esta escada se apoia em Beer Sheva e a metade
do seu declive alcança a frente do Templo.” Ou seja, a linha média está em
frente do Templo, que é o Criador.
Agora devemos
interpretar por que está escrito, “E eis, anjos de Deus subiam” e depois “desciam.”
Devia estar escrito “desciam” primeiro e depois “subiam.” Devemos explicar isto no trabalho:
Aquelas pessoas
que querem trabalhar pelo bem do Criador e não para seu próprio bem são
chamadas “anjos de Deus,” ou seja que elas vieram para este mundo como
mensageiros de Deus, para servir a Deus.
Isso é como
disseram nossos sábios (Sucá 72), “Eles são mensageiros de um Mitsvá [mandamento/boa
acção].” E RASHI lá interpretou, uma vez que eles foram para saudar o chefe da
congregação e a pessoa deve saudar o seu rav [grande professor] de pé, ou seja
que quando nos engajamos em Mitsvot [plural de Mitsvá], nós somos “mensageiros
de um Mitsvá,” ou seja mensageiros do Comandante. Por outras palavras, eles
vieram para o mundo para serem os mensageiros do Criador e todos eles devem
fazer e observar todas as coisas que o Criador ordenou para fazer, como está
escrito, “Que Deus criou para fazer.” Isso é explicado na Sulam [Comentário
da Escada sobre o Zohar] (Na “Introdução para o Livro do Zohar”), que “criou”
significa existência a partir da ausência. Isto se refere à vontade de receber,
que vem do Criador “Para fazer” é relativo aos seres criados, significando que
eles devem trabalhar pelo bem do Criador. Sucede-se que aqueles que trabalham
para o bem do Criador são chamados “anjos do Criador,” como foi dito, “mensageiros
do Criador.”
Com isto devemos
interpretar o que está escrito (Moed Katan 17a), “Se o Rav é
semelhante a um anjo do Criador, deixai-os procurar aprender dele. Se não for,
não os deixai procurar aprender dele. Eles devem questionar sobre isso, Deve
aquele que quer aprender de um rav primeiro ver o anjo do Criador e então,
depois de ele ter visto a forma do anjo do Criador, essa é a hora de procurar
um rav que seja semelhante a um anjo do Criador?”
Segundo o citado,
devemos interpretar que se o rav ensina aos discípulos o trabalho que deve ser
feito em prol de doar, ou seja por que a pessoa vem para este mundo, para fazer
a missão de Deus, pelo bem do Criador, essa pessoa é um mensageiro do Criador e
não um senhorio neste mundo, mas um servo do Criador. O sentido de “mensageiro
do Criador” é “anjo do Criador.” Este é o significado de “Se o rav for
semelhante a um anjo do Criador, deixai-os procurar aprender dele.”
Agora podemos
entender por que está escrito, “e eis, anjos de Deus subiam” primeiro. A razão
é que no trabalho, ser um anjo do Criador significa trabalhar pelo bem do
Criador, que requer que primeiro subamos a escada, chamada “direita” e chamada “seu
topo alcança os céus” e depois descer, que é a esquerda, chamada “posta na
terra” e depois novamente. Isto é chamado “subir e descer.”
Posteriormente, eles são recompensados com
a linha média, ou seja que o Criador dá a alma e então eles são recompensados
com Dvekut com o Criador.