Article No.
19, Tav-Shin-Mem-Hey, 1984-85
“Vinde ao Faraó.” Isto é
perplexo. Não devia ter dito, “Ide ao Faraó”? Explica O Zohar (Bo,
item 36), “Mas Ele permitiu Moisés em salas dentro de salas, até um elevado monstro
marinho. …Quando o Criador viu que Moisés tinha medo … disse o Criador, ‘Eis,
Eu estou contra ti, Faraó Rei do Egipto, o grande monstro marinho que reside no
meio dos seus rios.’ O Criador teve de travar guerra contra ele e nenhum outro,
como dizeis, ‘Eu o Senhor,’ e explicaram eles, ‘Eu e nenhum emissário.’”
Sucede-se que “Vinde” significa nós dois juntos.
Para interpretar isto na
obra do Criador, primeiro temos de saber qual é nossa exigência ao nos
envolvermos em Torá e Mitzvot [mandamentos]. Isto é, o que pedimos em
troca por isso. A recompensa deve ser clara, de entender que é vantajoso para
nós abdicarmos dos prazeres corpóreos se entendermos que isso interfere com nós
alcançarmos a meta, que é nossa recompensa, de alcançar a meta sublime através
de nosso envolvimento em Torá e Mitzvot, portanto que a meta é uma
recompensa por abdicar dos prazeres corpóreos.
Portanto, devemos saber
que a principal recompensa que queremos por mantermos Torá e Mitzvot é Dvekut
[adesão] com o Criador, que é equivalência de forma, como em “e te apegares
a Ele.” É como disseram nossos sábios (Bába Bátra, 16), “O Criador criou a
inclinação do mal, Ele criou para ela a Torá como tempero.” Este é o Kli [vaso]
no qual podemos receber o propósito da criação, chamado “fazer o bem às Suas
criações,” que é chamado “a revelação da Sua Divindade às Suas criaturas neste
mundo,” como está escrito no ensaio, Matan Torá [“A Entrega da Torá”].
É sabido que o cerne do
trabalho está em fazer o Kli. Mas o preenchimento, que é a abundância
derramada para o Kli, vem do superior, que é Seu desejo de beneficiar
Suas criações. Certamente, da Sua perspectiva, nada O previne de nos dar e
todas as deficiências que sentimos são por não termos os Kelim [vasos] para
receber a abundância, uma vez que nossos Kelim vêm da quebra. Isto assim
é pois devido à quebra dos vasos que ocorreu no mundo de Nekudim, as Klipot
[cascas/peles] emergiram, que recebem em prol de receber, pois na
espiritualidade, quebrar é semelhante a quebrar um vaso na corporalidade. Com
um vaso corpóreo, se ele estiver quebrado e você derramar para ele certo
líquido, o líquido verte fora. Similarmente, na espiritualidade, se um
pensamento da vontade de receber para si mesmo entrar no Kli, a
abundância derrama fora para os externos, ou seja para fora de Kedusha [santidade].
Kedusha significa “pelo Criador.”
Qualquer coisa fora de “pelo Criador” é chamado Sitra Achra [outro lado],
nomeadamente o outro lado de Kedusha. É por isso que dizemos que Kedusha
significa doar e Tuma’a [impureza] significa receber.
Por esta razão, nós, que
nascemos após a quebra, desejamos somente receber. Portanto não nos pode ser
dada abundância, pois toda ela certamente irá para o lado do Sitra Achra.
Esta é a única razão pela
qual estamos longe de receber o deleite e prazer que o Criador preparou para
nós, pois todas as coisas que Ele nos possa dar não permanecerão connosco, mas
serão perdidas, como disseram nossos sábios, “Quem é um tolo? Aquele que perde
aquilo que lhe é dado.” Significa isto que a raiz da razão de o perdermos é que
nós somos tolos.
Mas por que deve um tolo o
perder e um sábio guardar aquilo que lhe é dado? Devemos interpretar que um tolo
é aquele que permanece na sua natureza, que é o amor próprio e não trabalha em
tácticas para sair da sua natureza, ele permanece tão nu como no dia em que
nasceu, sem outra roupa, uma roupa conhecida como “a vontade de doar,” pois com
uma roupa de doação ele pode vestir o deleite e prazer que deve receber.
Todavia, por vezes uma
pessoa começa a obra de doação e explica para o corpo que este é o inteiro
propósito do trabalho, de receber vasos de doação. Porém, depois de todas as
suas discussões com o corpo, o corpo diz para ela, “Tu não consegues mudar a
natureza que o Criador criou. E uma vez que a criação é considerada ‘existência
a partir da ausência,” ela é somente na forma do desejo de receber, então como
te atreves a dizer que consegues mudar a natureza que o Criador criou?”
Foi dito sobre isto, “Vinde
ao Faraó,” ou seja que nós vamos juntos. Eu desejo ir contigo para que Eu mude
a natureza e tudo o que Eu quero é que tu Me peças para te ajudar a mudar a tua
natureza de um desejo de receber para um desejo de doar, como disseram nossos
sábios (Sucá, 52), “A inclinação do homem o supera todos os dias e não
fosse a ajuda do Criador, ele não a teria superado.”
Porém, devemos entender
por que o Criador precisa que ele peça Dele. Isto é compreensível com os de
carne e osso, que querem honrar a quem eles pedem, de modo a saberem que ele o
ajudou. Mas como pode tal coisa ser dita sobre o Criador? Contudo, a regra, “não
há luz sem um Kli,” significa que é impossível dar para alguém
preenchimento se ele não tiver desejo. Enquanto não há desejo por alguma coisa,
se lhe der, ele não terá fome disso. Portanto, ele não será capaz de o
valorizar e não o impedirá de ser roubado.
Isto é, há pessoas que
entendem a importância da questão e a tirarão dele. É por isso que uma pessoa
deve pedir a ajuda do Criador, para que se lhe for dada alguma iluminação do
alto ela saiba como impedir que os externos a roubem dela, pois eles conhecem o
valor de qualquer iluminação de Kedusha.
Por esta razão, quando uma
pessoa pede que o Criador a ajude e um verdadeiro pedido começa precisamente
quando se vê que uma pessoa é incapaz de se ajudar a si mesma, então sabe ela
de certeza que não há escolha senão pedir ao Criador que a ajude. Inversamente,
ela permanecerá separada da Kedusha e não terá outra saída do estado de
amor próprio. Portanto, quando o Criador a ajuda, ela já sabe que esse é um bem
valioso que deve ser cuidadosamente guardado para que os externos não o levem.
Similarmente diz o ARI (O
Estudo das Dez Sefirot, Parte 7, p 495), “Este é o sentido da perseguição
da inclinação do mal e do Sitra Achra para fazerem os justos pecar e de se
apegarem a Kedusha. Isso assim é pois eles não têm vitaildade outra
senão através deles. Quando o bem e Kedusha aumentam, suas vidas
proliferam. Assim, daqui em diante não se vão admirar por que persegue a
inclinação do mal o homem de modo a fazê-lo pecar.”
Portanto, para se impedir
de perder aquilo que lhe é dado, um primeiro deve fazer grandes esforços, pois
algo que vem até uma pessoa através de trabalho o faz guardar a coisa e não a
perder. Mas durante o esforço, quando uma pessoa vê que o trabalho ainda está
longe de estar terminado, ela por vezes foge da campanha e cai no desespero.
Nessa altura ela precisa de grande fortalecimento, de acreditar que o Criador a
vai ajudar e o facto de que a ajuda ainda não chegou é porque ela ainda não deu
a quantidade e qualidade de trabalho requisitada para preparar a deficiência em
prol de receber o preenchimento, como foi dito (“Introdução ao Estudo das Dez
Sefirot,” item 18), “E se um praticar Torá e falhar remover a inclinação do mal
de si mesmo, é ou porque ele foi negligente em dar o trabalho e esforço
necessário na prática da Torá, como está escrito, ‘Eu não trabalhei e achei,
não acredites,’ ou talvez ela realmente tenha feito a necessária quantidade de
trabalho, mas foi negligente na qualidade.”
Assim, devemos prestar
atenção a “Vinde ao Faraó” e acreditarmos através dos piores estados e não
fugirmos à campanha, mas em vez disso sempre confiarmos que o Criador consegue
ajudar uma pessoa e lhe dará, quer ela precise de ajuda pequena ou de imensa
ajuda.
Na verdade, aquele que
entende que ele precisa que o Criador lhe dê imensa ajuda, pois ele é pior que
o resto das pessoas, é mais adequado para sua oração ser respondida, como está
escrito, “O Senhor está próximo dos de coração quebrado e salva os de espírito
esmagado.”
Portanto, um não deve
dizer que ele é desadequado para o Criador o aproximar, mas que a razão é que
ele é ocioso no seu trabalho. Em vez disso, ele deve sempre superar e não
deixar que pensamentos de desespero entrem na sua mente, como disseram nossos
sábios (Berachot, 10), “Até se uma afiada espada for colocada sobre seu pescoço
não se deve ele negar da misericórdia,” como foi dito (Job, 13), “Embora Ele me
matasse, Eu esperarei Nele.”
Devemos interpretar a “afiada
espada colocada sobre seu pescoço” significar que até se o seu mal, chamado “amor próprio,” for colocado sobre seu pescoço e o quiser separar da Kedusha ao
lhe mostrar que é impossível sair desta autoridade, ele não deve dizer que a
imagem que ele vê é a verdade.
Todavia, “Ele não se deve
negar a si mesmo a misericórdia,” pois nessa altura deve ele acreditar que o
Criador lhe pode dar a misericórdia, ou seja a qualidade de doação. Isto é, ele
sozinho, é verdade que ele não consegue sair da autoridade da auto-recepção.
Mas da perspectiva do Criador, quando o Criador o ajuda, é claro que Ele o
consegue trazer para fora. Este é o sentido daquilo que está escrito, “Eu sou o
Senhor teu Deus, que te tirou da terra do Egipto para ser teu Deus.”
É isto que dizemos na
leitura da Shemá—que é assumir o fardo do reino dos céus—que devemos
saber que o Criador é aquele que o tira da autoridade da recepção, chamada “separação”
e o admite para Kedusha. Nessa altura, “para ser teu Deus” é mantido na
verdade, pois então ele é considerado “povo de Israel” e não como “povos da
terra.”
Disseram nossos sábios
sobre isso (Pesachim, 118): “Rabi Yehoshua Ben Levi disse, ‘Quando o Criador
disse para Adam HaRishon, ‘Espinhos e cardos crescerão para ti,’ seus
olhos lacrimejaram. Ele disse para Ele, ‘Mestre do mundo, comerei eu e meu
burro da mesma manjedoura?’ Pois Ele lhe havia dito, ‘Pelo suor de teu rosto
comerás tu o pão,’ sua mente foi prontamente apaziguada.’”
Contudo, devemos entender
o argumento de Adam HaRishon, que questionou sobre a acção do Criador,
por que merecia ele comer da mesma manjedoura como o burro. Esta é uma justa
queixa. A evidência disto é que o Criador o aconselhou a comer pão. Não fosse
esta uma queixa justa, o Criador não teria aceitado seu argumento. Este
argumento, dizendo “Comerei eu e meu burro da mesma manjedoura,” é difícil de
entender. Qual é sua vantagem? Afinal, disseram nossos sábios (Sinédrio, 38), “Nossos
sábios disseram, ‘O homem que nasceu na véspera de Shabat [Sabate] para que
caso se torne arrogante, lhe será dito, ‘o mosquito veio antes de ti no trabalho da
criação.’’”
Respectivamente, se um
mosquito veio antes dele, então qual é a queixa sobre comer da mesma manjedoura
como o burro? Todavia, devemos interpretar que após o pecado ele caiu para o
amor próprio. Sucede-se que ele se tornou semelhante a um burro, que nada
entende senão amor próprio. Este é o sentido de “Seus olhos lacrimejaram e
disse ele, ‘Comerei eu e meu burro da mesma manjedoura,” significando do mesmo
discernimento de amor próprio?
Foi por isso que lhe foi
dado o conselho, “Pelo suor do teu rosto comerás tu o pão.” Pão é considerado
comida humana. Isto é, através do trabalho em “Pelo suor do teu rosto comerás
tu o pão,” que é comida humana, ele emerge de ser “o povo da terra” e é então
chamado “o povo de Israel,” que é Yashar-El [direito ao Criador].
Mas o Egipto—que foi o povo de Israel no exílio, pois Egipto é
chamado “uma nação que é aparentada de um burro”—significa que a meta era
somente pelo amor próprio. Por esta razão, nessa altura a salvação para Israel
foi que o Criador os tirasse do Egipto. Este é o sentido de precisar tencionar
sobre a aceitação do fardo do reino dos céus, “Eu sou o Senhor vosso Deus, que
vos tirou da terra do Egipto, para ser vosso Deus,” pois precisamente pela
força de Deus podemos nós sair do Egipto e sermos recompensados com “para ser
vosso Deus.”