9 de Junho, 1962, Shavuot, Antuérpia
Para o meu amigo …
A respeito de tua pergunta sobre as
palavras de nossos sábios, “Um filho teimoso e rebelde não foi, nem está
destinado a ser. Em vez disso, exigi e recebei recompensa” (Sanehdrin,
p 1). A Torá é mais longa que a terra, então por que foram dadas as coisas
somente para “exigir e receber recompensa,” e não de coisas reais?
Também haveis questionado sobre a recompensa.
Na realidade, um deve servir ao rav não em prol de receber recompensa, ou seja Lishma (pelo
Seu bem).
Também devemos entender que é sabido que o
propósito da criação é fazer o bem às Suas criações, nomeadamente que as
criaturas venham a receber deleite e prazer. E a razão pela qual as criaturas
se devem envolver em Torá e Mitzvot [mandamentos] sem
recompensa é que essa é apenas uma correcção da parte das criaturas, uma vez
que as criaturas não conseguem provar a recepção de prazer sem vergonha. O
sagrado Zohar lhe chama, “Aquele que come aquilo que não lhe
pertence, tem medo de olhar para sua face.”
Isto é, sentimos deficiência aquando da
recepção do prazer, então nos é dado o remédio da Torá e Mitzvot, pelos
quais um se torna adequado para receber todos os prazeres que o Criador
contemplou a nosso favor e não haverá o defeito da vergonha pois é somente pelo
Criador. Assim ocorre que a interpretação é uma correcção pela qual podemos
receber a recompensa e ela não será por nós mesmos, mas pelo Criador.
Inversamente é impossível receber recompensa, nomeadamente prazeres, pois o
prazer é chamado “recompensa.”
E a respeito de “não foi, nem está
destinado a ser,” é explicado que lá há coisas que um consegue alcançar durante
os seis mil anos. Uma vez que é impossível alcançar a secreta, essas coisas nos
foram dadas na corporalidade como coisas para fazermos. Isto se aplica ao mundo
das acções.
Porém, há coisas que podem ser alcançadas
somente no sétimo milénio. Portanto, embora elas estejam implícitas na acção
corpórea do Mitzva [mandamento], tal como ser um filho teimoso
e rebelde, elas também não são praticadas durante os seis mil anos. Desta
forma, isto não que se torne um trabalho em si, mas em vez disso “exigi e recebei
recompensa,” pois somente a exigência se aplica aos seis mil anos, mas a
recompensa, ou seja a realização superior, será no sétimo milénio. Isto é
chamado “não foi,” no princípio dos seis mil anos, “nem está destinado a ser,”
no fim dos seis mil anos. Em vez disso, isso aparecerá no princípio do sétimo
milénio.
Pelo caminho da ética, devemos interpretar
que por vezes um chega a um estado de tamanha humildade que ele não prova
qualquer sabor na Torá e oração. Embora ele esteja a aprender, ele sabe e sente
a verdade sobre si mesmo, que a verdadeira causa pela qual ele continua a
aprender Torá não é por causa do temor aos céus, mas por causa do hábito e
especialmente por causa do que as pessoas possam dizer. Isto é quando o meio ambiente
em que ele está vê que ele é preguiçoso no estudo da Torá eles o vão considerar
um vaso vazio sem temor aos céus e não o vão respeitar tanto como eles o
respeitavam antes. Portanto, quando ele deixa o estudo da Torá ele sofrerá do
seu meio ambiente e sua família o desprezar.
É semelhante na oração; ele ora somente
por hábito, mas sem qualquer obrigação devido ao temor. Ele continua com isso
também devido à mesma causa com o estudo da Torá. Mas mais importante, ele não
vê propósito na sua vida e não consegue continuar em tal estado durante muito
mais tempo.
Para isto há uma correcção chamada “ministro
do esquecimento.” Ele esquece a meta, ou seja a razão que necessita que ele
continue no envolvimento da Torá e oração. Quando ele se esquece da razão que o
obriga ele continua com a Torá e Mitzvot somente por hábito.
Se ele tem uma oportunidade para sair desse meio ambiente ele faz-o de imediato.
Em tal estado precisamos de grande
misericórdia em prol de sermos capazes de nos segurar até à ira, ou seja a
humildade, terminar. E uma vez que os tormentos purificam as iniquidades do
homem, através do sofrimento têm piedade dele do alto e lhe é dada uma
iluminação de temor aos céus e ele regressa à vida. Assim a situação retorna a
ser como era antes da sua queda para o estado de humildade.
Esse tempo supracitado de humildade é
chamado “não foi, nem está destinado a ser,” ou seja que não foi o propósito da
criação nem está destinado a ser. Talc oisa é chamada uma “pausa,” uma vez que
há um estado de Kedusha (santidade) e um estado de Tuma’a (impureza).
Ele pode esperar se arrepender desse
estado de Tuma’a, mas o supracitado estado é chamado um estado de “morte.”
Isto é, tudo aquilo que ele faz é sem vida e é considerado morto. Não estava na
meta nem está destinado a estar. Nesse caso, por que é necessário? todavia,
exigir e receber recompensa, ou seja que nesse estado um deve exigir do
Criador, como disseram nossos sábios, “Sião; ninguém a requer, ou seja que uma
exigência é requerida.” Isto é, tal estado é dado para uma pessoa em prol de
ter espaço para exigir, que ela exija intencionalmente que o Criador o aproxime
de Kedusha.
Mas quando uma pessoa faz Mitzvot,
ela sente sobre si mesma que o Criador a vai aproximar. Mas precisamente nessa
altura, chamada “pausa,” é o lugar da exigência com oração e pedido.
Que o Criador abra nossos olhos na Sua
Torá [lei]
Baruch Shalom HaLevi Ashlag
Filho de Baal HaSulam
P.S.
A respeito da contagem do Omer [uma
contagem de sete semanas começando na noite de Pêssach e terimnando em Shavuot],
é sabido que o principal trabalho do homem é se conectar a si mesmo ao Criador.
Omer vem
da palavra [em Hebraico] “reunir feixes.” RASHI interpretou, “como é traduzido,
reunir feixes, colectar.” Isso significa que ao se tornar mudo e não abrir a
boca com queixas contra o Criador, mas em vez disso, para essa pessoa ‘Tudo
aquilo que o Misericordioso faz, Ele faz para o melhor’ (Berachot 9),
e diz que ele, ou seja seu pensamento e desejo, serão somente pelo Criador,
então ela está a reunir.
Isto é, ao conectar todos os seus
pensamentos e desejos com uma estreita conexão de terem somente uma meta, de
trazer contentamento ao fazedor, uma pessoa é considerada “reunir.”
Os interpretes dizem que a contagem do Omer vem
das palavras, “e debaixo dos Seus pés pareciam estar tijolos de safira, tão
puros como os corpos celestes.” Significa isto que com uma pessoa se conectar a
si mesma ao Criador, ela é recompensada com a revelação da luz do Criador
aparecer sobre ela. Sucede-se que ao uma pessoa reunir, atando todos os desejos
num nó, ou seja a um propósito, pelo Criador, então esse Omer brilha.
Este é o sentido da contagem do Omer[reunião], onde uma pessoa
brilha com a luz do Criador.
E dado que um Judeu consiste de sete
qualidades, que devem ser corrigidas para serem pelo Criador e há uma regra que
cada qualidade é composta das outras, então teremos sete vezes sete, portanto
quarenta e nove dias. É por isso que contamos quarenta e nove dias até aos dias
da recepção da Torá.
Omer vem
da palavra Seorim [cevada/medidas]. Significa isto que ele vem
das medidas, ao medir no coração a grandeza do Criador, como interpreta o
sagrado Zohar no versículo, “Seu esposo é conhecido nos
portões.” Diz o sagrado Zohar, “Cada um de acordo com aquilo que
ele assume no seu coração,” a essa medida a luz do Criador está sobre essa
pessoa.
Isto é chamado “fé.” Quando uma pessoa é
recompensada com a fé no Criador, isso é considerado como “besta.” Este é o
sentido do Omer ser de cevada, que é alimento animal, ou seja
que ele não foi ainda recompensado com a visão da Torá. Mas em Shavuot, quando
recompensado com a recepção da Torá, um recebe a visão da Torá. Por esta razão,
oferecemos a oferenda de trigo, que é alimento do homem, que é o falante. Mas
antes que um seja recompensado com a Torá, que é o falante, isso é considerado
uma oferenda de cevada, que é alimento animal. Nessa altura isso é chamado “reunir
feixes,” considerado estar mudo, que é apenas o animal e não falante, pois
somente pela Torá são eles recompensados com serem “falantes.”