6 de Junho, 1962, Antuérpia
Para…
Porque estou em mudanças, as cartas não me
alcançam em ordem. Só na última semana recebi as primeiras cartas de Israel. Já
escrevi quatro cartas para Jerusalém, para aquelas que me escreveste e elas
foram …
E a respeito das palavras que queres que
elabore, repito o excerto inteiro: Disseram nossos sábios, “Rába bar Rav Huna disse,
‘Qualquer pessoa em quem haja Torá mas não haja temor aos céus é como um
tesoureiro a quem foram dadas as chaves de dentro mas a quem não foram dadas as
chaves de fora; como entrará ele?’” Interpretou RASHI que o temor aos céus é
como as portas externas através das quais entrar para as internas. Logo, se ele
teme aos céus, ele fica ansioso para manter e para fazer. Senão, ele não teme
pela sua Torá. “Rabi Yanai declara, ‘“Ai daquele que não tem casa mas
construiu um portão para a casa’” (Shabat, 31).
Devemos perguntar:
1) Rába bar Rav Huna assemelha o temor dos
céus à exterioridade e a Torá à interioridade quando diz, “Mas não lhe foram
dadas as chaves de fora; como entrará ele?” Isto é, se ele não tem temor aos
céus, como entrará ele na interioridade? Rav Yanai assemelha o temor aos céus à
interioridade, pois ele disse que o temor aos céus é como uma casa e a Torá é
somente um portão e um portão é exterioridade. Sucede-se que ele pensa que a
Torá é exterioridade.
2) O que acrescentou Rav Yanai a Rabbah bar
Rav Huna e disse “Ai” e deu o exemplo de Rabi Yanai.
É sabido que o propósito da criação é
fazer o bem às Suas criações. Em prol de ser capaz de receber o bem que foi
preparado para nós, nós precisamos de qualificação, que é equivalência de
forma. Significa isto que nossa intenção deve ser somente para doar e não
recebermos para nós mesmos. Depois de sermos recompensados com a luz vestida na
Torá interna (quando alcançarmos a luz escondida na Torá interna, isto é
chamado “a Torá e Israel e o Criador são um”). Nossos sábios disseram sobre
isto, “Não há bem senão a Torá,” da qual foi dito, “Que é melhor que o ouro,”
etc., ou seja que a doce luz da vida está vestida na Torá interna.
É sabido que “Um homem nasce o potro de um
asno selvagem,” pois “a inclinação do homem é má desde sua juventude” e como
disseram nossos sábios, “Quem me dera que Me deixassem e mantivessem Minha Torá
[lei], uma vez que a luz nela o reforma” (Talmude de Jerusalém, Hagiga).
Eu já interpretei este artigo pois é
difícil entender a conexão entre deixar o Criador e manter a Torá. Como pode
haver Torá sem o Criador, do qual foi dito, “Me deixassem”? A resposta está
escrita perto disso: “pois a luz nela o reforma.”
Significa isto que quando uma pessoa se
quer aproximar do Criador, o Criador lhe diz que enquanto ela estiver imersa em luxurias do mal, o Criador não a consegue aproximar, pois então uma pessoa
ainda está na qualidade da falsidade e o versículo, “Aquele que fala falsidade
não será estabelecido perante Meus olhos.” Quando uma pessoa é orgulhosa, diz o
Criador, “Ela e Eu não podemos morar na mesma abadia” e assim por diante.
Em vez disso, ao manter a Torá, cuja luz o
reforma, ele sairá das más qualidaes, chamdas “recepção” e será capaz de se
envolver na doação, que é o sentido de o reformar, como está escrito, “Meu
coração transborda de uma coisa boa; Eu digo, ‘Minha obra e pelo Rei’” (Salmos
45).
Por outras palavras, tudo aquilo que ele
faz é somente em prol de doar sobre o Rei e somente depois o Criador o
aproxima. Essa pessoa é recompensada com fé permanente (como está escrito na Sulam [comentário
da Escada], na “Introdução ao Livro do Zohar”).
Desta forma, para uma pessoa obter o temor
aos céus e a habilidade de fazer boas acções, ela não tem outra escolha — como
explicado nas palavras do Talmude de Jerusalém — senão “mantivesses Minha Torá
[lei].” Isto é, através da Torá, cuja luz o reforma. Então, quando ele for
reformado, ou seja quando ele tiver obtido o temor aos céus através da Torá,
será rele recompensado com a Torá interna, ou seja com a luz da Torá que está
vestida na Torá externa.
Isso é como disseram nossos sábios, “Na
luz que foi criada no primeiro dia, viu Adão da extremidade do mundo até à sua
extremidade. O Criador olhou para as obras da geração do dilúvio e para a
geração da Babilónia e viu que todas as suas obras eram defeituosas. Ele se levantou e o ocultou. Onde o ocultou Ele? Na Torá.
Com isso podemos interpretar as palavras
de Rába bar Rav Huna, que assemelha o temor aos céus às chaves de fora e a Torá
às chaves de dentro. Ele se refere a uma pessoa que deseja ser recompensada com
a interioridade da Torá, onde toda a vida e bem e prazer se encontram. Antes
dela tentar adquirir o temor aos céus, ela carece da qualificação adequada para
ser digna da recepção da luz oculta, como está escrito, “E negará aos ímpios
sua luz” (ver o princípio de Mesilat Yesharim[Caminho do Recto]). Mas
antes de uma pessoa corrigir suas más acções e adquirir o temor aos céus ela é
desadequada para receber o bem.
Sucede-se que o temor aos céus é chamado “exterioridade,”
ou seja que através do temor aos céus será ela capaz de receber a Torá interna.
É por isso que na sua visão, aquele que deseja receber a interioridade da Torá
antes de ele ter o temor aos céus, é como se ele tivesse as chaves de dentro
mas não lhe tivessem dado as chaves de fora; como entrará ele? Uma vez que ele
não tem o temor aos céus, ele é desadequado para receber o deleite e prazer.
Foi com isso que Rabi Yanai estava
excitado e declarou, “Ai daquele que não tem casa mas construiu um portão para
a casa.” Isto é, as palavras de Rába bar Rav Huna significam que aquele que
deseja ser recompensado com a interioridade da Torá primeiro deve adquirir o
temor aos céus, que é externo em relação à interioridade da Torá.
Sucede-se que a coisa principal que um
precisa de adquirir é o temor aos céus, pois então o temor aos céus será como
um quarto onde se pode colocar objectos e bela mobília e preciosos artefactos.
Mas se ele não tiver quarto no qual colocar coisas, nada lhe poder ser dado.
Para Rabi Yanai, o temor aos céus será a casa onde ele coloca a interioridade
da Torá.
Desta forma, viu ele que a coisa principal
sobre a qual um precisa de trabalhar e se esforçar no mundo é o temor aos céus,
que este é o receptáculo para os prazeres superiores e viu que as pessoas
aprendem Torá suas vidas inteiras mas sua intenção não é adquirir o temor aos
céus através dela, dado que o estudo da Torá deve ser no caminho supracitado de
Jerusalém, nas palavras, “Quem me dera que Me deixassem e mantivessem Minha
Torá, pois a luz nela o reforma,” ou seja que através da Torá serão eles
recompensados com serem bons.
Isto é, através da luz da Torá — até se
ele ainda aprender em Lo Lishma (não pelo Seu bem), uma
vez que ainda não foi recompensado com o temor aos céus, então como pode ele
estudar Lishma antes de ter sido recompensado com fé, que é o
temor aos céus? Mas através da luz na Torá que é LoLishma—ele é
mais tarde recompensado com o temor aos céus. Isto é considerado que ela “o
reforma.”
Sucede-se que a Torá Lo Lishma é
o portão através do qual entrar no temor aos céus, chamada “casa” (um
receptáculo apara o bem na interioridade da Torá). É por isso que ele
acrescenta às palavras de Rába bar Rav Huna e diz, “Ai daquele que não tem
casa,” ou seja que ainda não tem o temor aos céus, “mas construiu um portão
para a casa,” dado que normalmente, aquele que contempla construir uma casa
pode construir uma porta para a casa que ele terá. Mas se ele não contempla
construir uma casa, por que faria para si mesmo uma porta?
É por isso que Rav Yanai declara, “Quando
uma pessoa está preocupada com o temor aos céus, que é uma casa, é vantajoso
para ela aprender Torá, pois a Torá lhe trará a luz e através da luz será ela
recompensada com o temor aos céus, chamada uma “casa,” na qual colocar a
interioridade da Torá.
Mas se ela não está preocupada com ser
recompensada com o temor aos céus pois ela não tem necessidade do temor aos
céus, por que se deve ea incomodar com desperdiçar sua vida na Torá, pois ela é
somente uma porta para entrar na casa chamada “temor aos céus”?
Se ela não tenciona adquirir o temor aos
céus, sucede-se que ela se incomoda para nada, desnecessariamente, dado que é o
sentido inteiro da Torá que em Lo Lishma ela seja somente
uma porta através da qual entrar no temor aos céus. Então, quando um tem o
temor aos céus,, pode ser dito que ele aprende Torá Lishma. Mas
quando ele não tem temor aos céus, quando ele não tem fé, a questão é para quem
está ele a aprender.
Mas quando uma pessoa quer adquirir o
temor aos céus e o mal dentro dela não lhe dá a força para ser capaz de
acreditar no Criador, nossos sábios nos acntelham que de Lo Lishma chegará
ela a Lishma. Isto é, ela será recompensada com o temor aos céus e
fé no Criador e ela saberá para quem ela está aprender. Isto é chamado uma “casa.”
Aquele que aprende Torá Lishma,
ou seja que tem temor aos céus, é recompensado com muitas coisas. Como disse
Rabi Meir (Avot), ele se torna como uma sempre fluindo nascente e os
segredos da Torá lhe são revelados, pois os segredos da Torá são o deleite e
prazer e é o propósito da criação que ele receba o deleite e prazer.
Sucede-se de tudo o citado que a porta é
chamada Torá Lo Lishma, que significa que ele ainda não tem
temor aos céus. Uma casa é chamada “temor aos céus,” dado que assim que ele
tenha recebido a luz da Torá, que é em Lo Lishma, ele é
recompensado com Lishma, ou seja com fé no Criador e então fará ele
tudo pelo Criador. Subsequentemente, ele é recompensado com a Torá interna, que
é o deleite e prazer, chamado “segredos da Torá,” como está escrito no Mishná, Avot.
Penso que clarifiquei isto cuidadosamente
e se tiveres alguns comentários sobre isto, escreve-me e saberei o que corrigir.
Comecei a carta mas somente hoje (31 de
Maio) a terminei. Esta semana recebi tua carta do 23 de Maio; Estou grato pelos
detalhes que me escreveste, por favor continua.
Baruch Shalom HaLevi Ashlag
Filho de Baal HaSulam