Artigo Nº 12, Tav-Shin-Mem-Vav, 1985-86
É sabido que a Criação é chamada “deficiência.”
É por isso que ela é chamada “existência a partir da ausência.” O homem foi
criado cheio de deficiências. Desta forma, para o homem ter sucesso na obra
quando ele avança para satisfazer suas deficiências ele deve primeiro saber
qual é a principal deficiência à qual ele deve dar preferência sobre todas as
suas outras deficiências. Uma vez que há deficiências espirituais e
deficiências espirituais devemos primeiro clarificar quais definimos como “espirituais”
e quais definimos como “corpóreas.”
No ensaio, “Prefácio à Sabedoria da Cabala”
(item 11) está escrito, “Agora podeis entender a verdadeira diferença entre a
espiritualidade e corporalidade: qualquer coisa que contenha um desejo completo
de receber, com todos seus Behinot [discernimentos], que é
chamado Behina Dalet, é considerado ‘corpóreo.’ É isto o que
existe em todos os elementos da realidade perante nós neste mundo.
Inversamente, qualquer coisa acima desta grande medida de desejo de receber é
considerado ‘espiritualidade.’”
Sucede-se que corporalidade significa que
se relaciona a satisfazer nossa vontade de receber. Logo, tudo aquilo que um
faz para seu próprio benefício é chamado “corporalidade” e aquilo que ele faz
para beneficiar o Criador é chamado “espiritualidade.”
Está deste modo claro que não precisamos
de criar o Kli [vaso] para a corporalidade, ou seja o desejo
de satisfazer a auto-gratificação, um Kli de querer receber em prol
de receber, uma vez que o Criador nos deu tais Kelim [vasos] no
começo da Criação, como é sabido que o pensamento da criação, chamado “Seu
desejo de fazer o bem às Suas criações,” criou a vontade de receber em
existência a partir da ausência, que devemos querer receber deleite e prazer.
Também, o Criador satisfaz esse Kli como Lhe apetece. Logo,
não precisamos de pedir vasos de recepção.
Portanto, a oração que damos para a
corporalidade é somente pelo preenchimento, ou seja que o criador satisfaça
todas as coisas que sentimos que precisamos dado que a sensação de carência é o
que nos faz sofrer. E o sofrimento que sentimos é a razão pela qual fazemos
tudo o que podemos para satisfazermos nossos desejos.
Isto assim não é quando precisamos de orar
pela espiritualidade, que o Criador satisfaça nossas deficiências, dado que a
carência pela espiritualidade foi a razão pela oração que o Criador conceda
nossos desejos dado que sofremos pois nossa deficiência não foi preenchida, uma
vez que esta deficiência ainda não nasceu em nós, ou seja a carência de
satisfazer o Kli chamado “vasos de doação,” que é a diferença
entre a espiritualidade e corporalidade. O Kli corpóreo é
chamado “vaso de recepção” e quer satisfazer sua auto-gratificação. Um Kli espiritual
é chamado “um Kli que quer satisfazer o benefício do Criador,”
contrário ao nosso próprio benefício.
Este Kli está ausente na
natureza da criação uma vez que por natureza, o homem nasce somente com um Kli de
auto-gratificação. A razão pela qual dizemos para nossos corpos que devemos
trabalhar para beneficiar o Criador é que ele não entende o que lhe está a ser
dito, pois ele não consegue perceber não considerar seu próprio benefício e
pensar todo o dia sobre beneficiar o Criador. É especialmente assim quando ele
escuta que devemos abdicar dos prazeres que pertencem ao amor próprio em favor
de beneficiar o Criador.
Esta coisa é tão estranha para o corpo
quando ele escuta que um deve trabalhar somente em prol de doar que
imediatamente se torna um chico esperto e pergunta, “Gostaria de saber se vês
outras pessoas a caminhar nesta linha pelas quais, tu, queres fazer o mesmo?
Verdade, concordaria contigo, mas vê por ti mesmo quantas pessoas vês cujo todo
o pensamento na vida é somente ver o benefício do Criador e não o seu próprio?
Se assumirmos que sabes que há pessoas que caminham nesta linha, quanto tempo e
esforço colocaram elas em terem a habilidade de fazer tudo somente para doar? E
especialmente, quanto tempo deve isto levar, um mês, dois meses, um ano, dois
anos?” E ele torna-se ainda mais chico esperto e pergunta, “Será que todos
aqueles que investiram tempo e esforço alcançam este grau de estarem acima para
direccionarem todas suas obras para doar?” Com estas palavras eles conseguem
desviar uma pessoa da obra que pertence ao caminho da doação. Sucede-se de tudo
o citado que a respeito da espiritualidade, chamada “trazer contentamento ao seu
Fazedor,” uma pessoa não tem tal deficiência. Pelo contrário, se ela tiver um
pensamento que devemos fazer algo para doar sobre o Criador sem qualquer
recompensa, todos os pensamentos e desejos do corpo imediatamente protestam e
clamam, “Não sejas tolo e uma excepção ao ir contra a maioria, que sabem que a
razão que te obriga a trabalhar é o benefício pessoal.
Somente com esta força consegue ele se
envolver em Torá e Mitsvot [mandamentos]. Embora ele saiba que
deve se envolver em Lishma [pelo Seu bem], mas há uma resposta
geral para isto, que ele mantém o que nossos sábios disseram, “Um sempre deve
se envolver em Torá e Mitsvot Lo Lishma [não pelo
Seu bem] pois de Lo Lishma será ele recompensado com Lishma.”
Contudo, ele não deve estar preocupado com isto, ou seja testar se já se
aproximou realmente de Lishma. Em vez disso, ele sabe que o bem
está destinado a chegar, ou seja que certamente ele alcançará Lishma,
então ele não precisa de pensar sobre o sentido de Lishma pois
ele não precisa de escrutinar os detalhes das coisas que é suposto não
escrutinar. Em vez disso, ele vive como a maioria.
Portanto, há uma grande diferença entre a
oração que um ora pela corporalidade e a oração que um ora pela
espiritualidade. Pela espiritualidade, ele deve orar primeiro pelo Kli,
ou seja por uma deficiência, para sentir dor e tristeza por não ter este Kli,
chamado “desejo,” ou seja desejar trazer contentamento ao seu Fazedor.
Acontece assim que ele não precisa de orar
para satisfazer a deficiência, como na corporalidade quando ele tem uma
necessidade e pede pela satisfação da necessidade, dado que ele ainda não tem Kli pela
espiritualidade. Assim, quando ele vem para orar pela espiritualidade ele deve
orar pelo Kli — que o Criador lhe dê umKli de querer
doar sobre o Criador. Posteriormente, quando ele tiver um Kli que
pertença à espiritualidade ele será capaz de orar para a abundância entrar no Kli
espiritual.
Sucede-se do citado que a verdadeira
deficiência pela qual um deve orar para o Criador deve ser o Kli. Segue
isto a regra, “Não há luz sem um Kli.” Quando ele ora por uma
verdadeira deficiência que ele carece vem a concessão da oração quando o
Criador lhe dá um novo Kli, como está escrito, “E Eu removerei o
coração de pedra da tua carne e te darei um coração de carne.”
Eu escutei sobre esta deficiência de Baal
HaSulam, que disse em nome do seu professor, o ADMOR de Pursov, sobre o
versículo, “Ordenai a Aarão (Levítico, 6:2). “RASHI interpreta, ‘‘Ordenai’ significa
apressar prontamente e para a posteridade. Rabbi Shimon disse, ‘a escrita deve
apressar principalmente onde os bolsos estão vazios.’’” Ele interpretou
significar que “bolso” é um Kli no qual colocar dinheiro.
Normalmente, nos esforçamos e preocupamos com obter dinheiro. E ele disse, “Um
deve estar mais preocupado onde os bolsos estão vazios, ou seja onde não há Kli. ”
Isso é como explicámos que na
espiritualidade um não precisa de orar que o Criador lhe dê abundância e luzes.
Em vez disso, primeiro ele deve ver se tem um Kli, ou seja um
desejo e anseio para doar sobre o Criador, dado que por natureza queremos
somente receber e não dar.
Sucede-se que quando um entra na obra
sagrada e quer receber completude, ele deve se esforçar com todo o seu poder
para obter o desejo de querer trazer contentamento ao seu Fazedor. É aqui que
ele deve focar todas as suas orações — que o Criador o ajude e lhe dê este novo
Kli. Ele deve dizer perante Ele: “Senhor do mundo, tal como Tu me
deste quando vim inicialmente para este mundo um Kli de
somente receber para meu próprio bem, agora Te peço que me dês um novo Kli,
para ter um desejo de doar somente contentamento sobre Ti.”
Podemos questionar, “Como pode um orar
para lhe ser dado um Kli chamado ‘desejo de doar,’ quando
dizemos que ele não precisa deste Kli pois ele não sente que
ele lhe vai faltar?” Como, então, pode um pedir alguma coisa que ele não
precise?
Embora ele veja que não tem o Kli chamado
“desejo de doar,” isso não significa que ele precisa de tudo aquilo que ele não
tem. Está escrito sobre as Sefirot superiores que a Sefira [singular
deSefirot] Bina deseja misericórdia embora tenhamos
aprendido que através da Tzimtzum Bet [segunda restrição]
ela tenha abandonado a Rosh de AA. Ainda assim é
considerado que ela não partiu, pois embora ela não tenha Chochma, isso
não é considerado uma deficiência pois ela não precisa dela.
Nós vemos que qualquer coisa que um não
tenha é considerado uma carência precisamente quando ele precisa dela. Além do
mais, ele deve sentir dor por não ter. Isto é, até quando ele sente que precisa
dela mas não está atormentado por não a ter, ainda não é considerada uma
deficiência. Assim, como pode ele orar por alguma coisa para a qual ele não
tenha deficiência?
É por isso que ele deve pensar sobre o
propósito da criação, que é como sabemos fazer o bem às Suas criações. Quando
ele começa a criticar esse bem, que está entre as criaturas, ou seja seu
deleite neste mundo do deleite e prazer que o Criador lhes quer dar, ainda
assim ele não o consegue encontrar entre as criaturas, isso faz-o perceber que
deve haver uma razão que negue o deleite e prazer às criaturas e pela qual a
abundância superior não é revelada e por que o propósito da criação não pode
ser completado.
Quando ele olha para si mesmo ele diz que
tudo aquilo que vê — que as criaturas não receberam a abundância — deve ser
pois elas não observam Torá e Mitsvot como um deve observar os
mandamentos do Rei. É como disseram nossos sábios, “O Criador quis recompensar
Israel, desta forma Ele lhes deu bastantes Torá e Mitsvot [mandamentos].”
Significa isto que através da Torá e Mitsvot podemos nós ser
recompensados com o deleite e prazer.
Contudo, a questão é, “Por que não estão a
observar a Torá e Mitsvot como é apropriado quando se serve o
Rei? Ele diz que isso é porque nos falta a sensação da importância da Torá eMitsvot
e que nos falta a importância do Mitsva [mandamento] que Ele
nos ordenou de manter Sua Torá e Mitsvot.
Nessa altura uma pessoa chega a uma
resolução de que somente o Criador consegue corrigir isto. Isto é, se Ele nos
revelar um pouco de luz da Torá e Mitsvot para que sintamos o
prazer neles certamente seremos capazes de servir o Rei com nossos corações e
almas, tal como deve ser com aqueles que sentem a grandeza do Rei. Assim, pelo
qual oramos para o Criador? Para dar alguma abundância superior. Então todos se
envolverão em Torá e Mitsvot adequadamente, sem qualquer
negligência.
Contudo, nós vemos aquilo que diz o
sagrado ARI, que a Nukva era desadequada lá, daí que houvesse a
quebra. A Ohr Pnimi [comentário “Reflexão Interna” dentro de O
Estudo das Dez Sefirot] interpreta as palavras do ARI que uma vez que a
abundância superior que devia entrar no Kli para receber a abundância
em prol de doar, dado que a luz era maior que o Kli estava
pronto para receber — ou seja que o Kli devia receber luz precisamente
de acordo com sua habilidade de direccionar em prol de doar e ele não conseguia
direccionar para doar com tamanha grande luz — a luz teve de entrar nos Kelim[vasos]
cujo desejo é em prol de receber.
Isto é chamado Klipa [casca/pele].
Sucede-se que os Kelim quebraram. Logo, caso a abundância entre nestes Kelim ela
irá para os externos, para as Klipot [plural de Klipa].
Isto é semelhante a dizer que o Kli foi quebrado para que não
coloquemos coisa alguma nele pois ele vai derramar tudo para fora.
Deste modo, um não deve orar para que seja
dada abundância do alto, dado que toda ela irá para os externos. Em vez disso,
ele deve orar para o Criador lhe dar um Kli, que é um desejo e
anseio para doar sobre o Criador. Quando ele tiver esse Kli, a
abundância superior vai aparecer ao homem e ele sentirá o deleite e prazer que
estavam no pensamento da criação de fazer o bem às Suas criações. Portanto, nós
devemos pedir ao Criador pelo que precisamos realmente, que é um vaso de doação
e não precisamos de orar por qualquer outra coisa.