Artigo Nº 3, Tav-Shin-Mem-Hey, 1984-85
Verdade e Fé são duas coisas
contraditórias. Nós vemos que na nossa oração, que foi estabelecida pelos
membros da Grande Assembleia, também temos duas coisas que se contradizem uma à
outra. Por um lado, eles ordenaram para nós o processamento da oração e a
oração deve ser dita especificamente quando uma pessoa está deficiente. Além do
mais, nossos sábios disseram, “Uma oração deve ser do fundo do coração,” ou
seja que a oração que oramos para o Criador deve ser do fundo do coração, ou
seja que sentiremos a deficiência através do coração.
Significa isto que dentro do coração não
deve haver lugar que seja pleno, mas em vez disso somente deficiências. E
quanto maior a deficiência, mais a oração é aceite em comparação às outras
orações. Está escrito em O Zohar sobre o versículo, “Uma
oração pelo pobre quando ele está fraco e derrama suas palavras perante o
Senhor” (Balak, itens 187-88): “Mas há três que são chamadas uma
‘oração’: uma oração por Moisés, homem de Deus
— não há oração como esta noutro homem. Uma oração por — não há outra
como ela noutro rei. Uma oração pelo pobre. Das três orações, qual é a mais
importante? É a oração pelo pobre. Esta oração vem antes da oração de Moisés,
antes da oração de David e antes de todas as outras orações no mundo. Qual é a
razão? O pobre tem o coração partido. Está escrito, ‘O Senhor é próximo dos de
coração partido.’ E o pobre sempre discute com o Criador e o Criador escuta
suas palavras.” Até aqui foram suas palavras.
Sucede-se, de acordo com as palavras do
sagrado Zohar, que a oração é precisamente quando uma pessoa está
quebrada, quando ela nada tem com o qual reanimar sua alma. Então isso é
chamado uma “oração do fundo do coração.” Esta oração é mais importante que
todas as orações no mundo pois ele não tem mérito com o qual dizer, “Eu não sou
como meus amigos pois tenho algum mérito que meus amigos não têm.” Acontece que
ele está cheio de deficiências e então há espaço para uma oração honesta do
fundo do coração. Isto é, quanto maior a deficiência, mais importante é a
oração.
E correspondendo à oração que eles
ordenaram para nós na ordem das orações, ordenaram para nós uma ordem de louvores
e gratidão. Isto contradiz a oração em súplica que existe na ordem das orações,
uma vez que normalmente, quando um faz alguma coisa de bom para outro, ele fica
grato por isso. Mas a medida da gratidão é sempre de acordo com a medida do
benefício que ele faz por ele. É assim que ele exprime a gratidão para o
receptor do benefício.
Por exemplo, se uma pessoa ajuda outra com
metade do seu sustento, ou seja que se ela obteve através dela provisão que
seja suficiente para fornecer as necessidades de metade do seu agregado, a
gratidão que ele lhe dá é incompleta. Mas se ele tentou achar para alguém
provisão completa e até luxos, ou seja que ele não tem deficiência que não
preencheu, certamente ele agradece e louva tal pessoa com seu coração e alma.
Acontece desta forma que quando uma pessoa
agradece e louva ao Criador e quer louvar e agradecer ao Criador do fundo do
seu coração, ela deve ver que o Criador lhe deu todos os seus desejos e ela não
carece de coisa alguma. Inversamente, sua gratidão não pode ser completa.
Desta forma, uma pessoa deve tentar ver
que ela não carece de coisa alguma, mas o Criador complementou todas suas
deficiências e ela é deixada sem deficiências. Somente então pode ela dar
graças ao Criador e este é o sentido dos cânticos e louvores que eles ordenaram
para nós na oração.
Por esta razão, elas, ou seja as orações e
súplicas e cânticos e louvores, são opostos, dado que se ele não tem completude
durante a oração e súplica e ele está cheio de deficiências, sua oração é
completa. Mas com os cânticos e louvores é o oposto: se ele não tem lugar de
deficiência que não estiver completamente preenchido, especificamente então
pode ele dar verdadeiras graças.
Devemos entender por que eles ordenaram
para nós esses dois opostos, para que propósito e o que nos dá esta ordem.
Também, devemos entender como é possível manter estes dois opostos, uma vez que
eles se contradizem um ao outro.
O santo Ari diz (Talmud Esser
Sefirot, P 788, item 83), “Devem haver duas portas numa mulher, de modo a
fechá-las e segurar o feto no interior, para que ele não saia até estar completamente formado. Deve também haver nela uma força que forme a forma do feto.”
Lá explica a razão: “Como na
corporalidade, se há um mau funcionamento no abdómen da mãe, a mãe aborta o feto. Isto é, se o feto sai do abdómen da mãe antes que a forma do feto tenha sido suficientemente formada ao grau de Ibur [impregnação], esse
nascimento não é considerado nascimento pois a Ibur não pode
existir no mundo. Em vez disso, isso é chamado de “aborto,” ou seja que ele não
nasceu, mas caiu do abdómen da mãe e não consegue viver.”
Similarmente, na espiritualidade, há dois
discernimentos no Ibur:
1. A forma do Ibur, que é o
grau de of Katnut [pequenez/infância], que é a verdadeira
forma. Porém, uma vez que ele só tem Katnut, é considerado como uma
deficiência e onde quer que haja uma deficiência na santidade, há uma garra
para as Klipot [cascas/peles]. Nessa altura as Klipot podem
causar o aborto — que o feto espiritual caia antes da sua fase de Ibur tenha
sido completada. Por esta razão, deve haver um elemento de impedimento, que é
que lhe é dada plenitude, ou seja Gadlut[idade adulta/grandeza].
2. Porém, devemos entender como ao
recém-nascido pode ser dada Gadlut enquanto ainda ele é
desadequado para receber até a Katnut suficientemente, uma vez
que ele ainda não tem os Kelim [vasos] nos quais receber em
prol de doar. Para isso há lá uma resposta: Nossos sábios disseram, “Um embrião
do abdómen da sua mãe come aquilo que sua mãe come.” Ele também disse, “Um feto é a anca da sua mãe.” Significa isto que uma vez que um feto é a anca da sua
mãe, o Ibur não merce seu nome próprio. Por esta razão, o feto come aquilo que sua mãe come. Isto é, o féto recebe tudo aquilo que recebe nos Kelim
da mãe. Por esta razão, embora o féto não tenha Kelim que
sejam adequados para receberGadlut, mas nos Kelim do
superior, que é sua mãe, ele pode receber pois está completamente anulado
perante a mãe e não tem autoridade própria. Isto é chamado Ibur, quando
ele está completamente anulado perante o Superior.
Então, quando ele recebe Gadlut,
isso é em plenitude. É por isso que não há garra para as Klipot lá
e é por isso que ela é chamada a “força de retenção.” Isto impede o feto de
cair na espiritualidade, como um aborto num feto corpóreo, de, onde a mãe deve
zelar pelo seu féto para que não haja mau funcionamento lá. É similar na
espiritualidade.
Acontece de tudo o citado que devemos
discernir dois estados na obra do homem:
1. O seu verdadeiro estado, o seja sua Katnut,
quando tudo aquilo que ele faz e pensa é Katnut. A sensação da Katnut começa
quando ele quer caminhar no caminho da verdade, que é trabalhar em prol de doar.
Nessa altura ele começa a ver sua Katnut, quão afastado ele está
das questões da doação e não consegue fazer coisa alguma em prol de doar. Isto
é chamado “verdade,” ou seja o seu verdadeiro estado.
Então, pois ele é Katnut, pode
haver uma garra para o Sitra Achra e ele pode chegar ao desespero.
Sucede-se que ele entrar na obra é considerado Ibur e ele pode
chegar ao aborto, ou seja cair do seu grau, semelhante ao feto corpóreo que cai
do abdómen da mãe e não consegue ficar vivo. Similarmente na espiritualidade,
ele cai do seu grau e precisa de uma nova Ibur. Isto é, ele precisa
de começar seu trabalho de novo como se nunca tivesse servido o Criador.
Por esta razão, deve haver uma força de
retenção para que o feto não caia. Isto significa que nessa altura ele deve
estar em plenitude, ou seja sentir que não carece de coisa alguma na obra, mas
que agora ele está próximo do Criador em completa Dvekut [adesão]
e ninguém lhe pode dizer, “Mas vês que não fizeste progresso na obra do
Criador. Esta forma, te esforças em vão e és desadequado para servir na
santidade. Deste modo, precisas de ser como todos os outros. Por que fazes
tanto alarido que queres estar num grau mais alto que todos os outros, embora
não derives satisfação da obra do público geral? Foi isto que te deu o empurrão
de modo a ser capaz de ter pensamentos e desejos que deves sair do trabalho das
pessoas comuns e ir mais além na direcção da verdade. É verdade que isto é a
verdade, mas vês que embora queiras caminhar no caminho da verdade, és
desadequado para ele, ora porque te falta o talento ou porque te falta a força
para superar, pois és incapaz de superar a natureza do amor próprio com a qual
nasceste. Desta forma, larga este trabalho. Não te demores na humildade como o
resto das pessoas e não levantes teu coração acima do teu irmão, para ser
altivo. Em vez disso, é melhor que te retires deste caminho.”
Por esta razão, em prol de não cair em
tais pensamentos, ele precisa da força de retenção. Isto é, ele deve
acreditar acima da razão que a garra que ele tem no caminho da verdade é grande
e muito importante e que ele não consegue sequer valorizar a importância de
tocar no caminho da verdade pois este é o Kliinteiro no qual a Luz
do Criador estará. Contudo, isto é nos Kelim do superior.
Portanto, o Criador sabe quando uma pessoa deve sentir sua Dvekut com
o Criador.
Nos seus próprios Kelim ele
sente o oposto — que agora ele está pior que quando caminhava no caminho do
público geral, onde ele sentia que cada dia ele somava boas acções e Torá e Mitsvot.
Mas agora, desde que começou a caminhar no caminho do indivíduo, de sempre
manter a intenção de quanto ele consegue trabalhar em prol de de doar e quanto
ele consegue abdicar do amor próprio, nessa altura frequentemente ele vê quanto
ele se aproxima da verdade. Nessa altura, ele sempre vê mais da verdade, que
ele é incapaz de sair do amor próprio.
Ainda assim, nos Kelim do
superior, ou seja acima da razão, ele se consegue elevar acima de si mesmo e
dizer, “Não me importa como estou a doar sobre o Criador. Eu quero que o
Criador me aproxime Dele e o Criador certamente sabe quando a hora vai chegar
em que eu sentirei que o Criador me aproximou Dele. Entretanto, acredito que o
Criador sabe o que é melhor para mim e é por isso que Ele me faz sentir os
sentimentos que sinto. Mas qual é a razão pela qual o Criador me quer guiar
neste caminho, ou seja que eu devo acreditar no caminho da fé que Ele se
comporta comigo benevolentemente? E se eu acreditar nisso, Ele me deu um sinal:
a quantidade de alegria que tenho a quantidade de gratidão que consigo dar que
isso é para nosso benefício, que especificamente através da fé conseguimos
alcançar a meta, que é chamada “receber em prol e doar.” Inversamente, o
Criador certamente nos conduziria no caminho do conhecimento e não pelo caminho
da fé.
Com isso entendereis o que questionámos, “Por
que precisamos de duas coisas que se neguem uma à outra?” Isto é, por um lado,
devemos caminhar no caminho da verdade, ou seja sentir nossa situação, que
sentimos que nos estamos a afastar do amor próprio e na direcção do amor pelos
outros e quanto gostaríamos que o mundo estivesse em, “Que Seu abençoado nome
cresça e seja santificado.”
E quando vemos que a espiritualidade ainda
não é tão importante, sentimos-nos em grande deficiência e também vemos quanto
nos arrependemos disso e como nos dói que estejamos removidos Dele. Isto é
chamado “verdade,” ou seja o estado em que sentimos nossos Kelim de
acordo com nossa sensação.
Também, nos foi dado o caminho da fé, que
é acima da razão, nomeadamente não tomar nossas sensações e razão em
consideração, mas dizer, como está escrito, “Eles têm olhos e não vêem. Eles
têm ouvidos e não escutam.” Em vez disso, devemos acreditar que o Criador é
certamente o Messias e Ele sabe o que é bom para mim e o que não é bom para
mim. Desta forma, Ele quer que eu sinta o meu estado como sinto e quanto a mim
mesmo, não me importa como me sinto pois quero trabalhar em prol de doar.
Deste modo, a coisa principal é que
preciso de trabalhar pelo Criador. E embora sinta que não há plenitude no meu
trabalho, ainda assim, nos Kelim do superior, ou seja da
perspectiva do superior, sou absolutamente completo, como está escrito, “Os
exilados não serão exilados Dele.” Assim, estou satisfeito com minha obra — que
tenho o privilégio de servir o Rei até no mais baixo dos graus. Isso, também,
considero como um grande privilégio que o Criador me permitiu me aproximar Dele
pelo menos até certo grau.
Isto dá-nos duas coisas: 1) Em respeito à
verdade, ele vê seu verdadeiro estado — que ele não tem lugar para a oração e
então ele tem lugar para a deficiência. Nessa altura pode ele orar que o
Criador complemente sua deficiência e então ele pode subir pelos graus de
santidade. 2) O caminho da fé, que é plenitude — que daqui ele pode louvar e
agradecer ao Criador e então pode estar ele em alegria.