27 de Setembro, 1963 (Véspera de Yom Kipur)
Olá e tudo de bom para o meu querido amigo,
Recebi tua carta e que o Criador te ajude
a ti e a tua família a sempre terem saúde e estarem bem. E para o ano novo, que
seja um ano de bênçãos e sucesso em todas as tuas obras. Peço-te que me
escrevas com mais frequência uma vez que anseio ouvir de como tu e tua família
estão a passar.
Nos Selichot [orações
penitenciais] que nós dizemos na véspera de Rosh Hashaná [Noite
de Ano Novo Hebraica], dizemos, “Como abrirei minha boca e como levantarás meus
olhos? Não tenho acções ou méritos.” Também dizemos, “E se Tu complementares
minha medida de acordo com meu trabalho e eu vir que estou nu,” e também, “Não
pela misericórdia nem pelas acções chegamos perante Ti. Batemos às Tuas portas
como magros e destituídos.” Isto é, não há nada de bom em nós, todavia
posteriormente dizemos, “Não deves fazer tal coisa: condenar o justo à morte
juntamente com o ímpio, como se o justo fosse como o ímpio. Não deves; Aquele
que julga a terra inteira não passará julgamento.”
Devemos entender como é possível que
enquanto dizendo que não há boas acções em nós, nos queixamos para o Criador e
dizemos, “Não deves fazer tal coisa: condenar o justo à morte juntamente com o
ímpio.” Isto levanta a questão, “Quem é o justo?” (ver o comentário de RASHI
sobre a porção, Vayerá, a respeito deste versículo).
É sabido que o homem é um pequeno mundo,
ou seja composto de todas as nações do mundo, que são geralmente referidas como
a “inclinação do mal.” Significa isto que em cada pessoa há todo o traço imundo
que existe em toda e cada nação. Mas ela também é composta de Israel, que é
chamada a “inclinação do bem.”
Quando não há boas acções numa pessoa,
isso é por que a inclinação do mal controla o corpo. Ness altura uma pessoa é
chamada “ímpia” (Ver em Bába Bátra, 16a: “Rába disse, ‘Job pensou livrar o
mundo inteiro do julgamento. Disse ele para Ele: ‘Mestre do mundo, Vós haveis
criado justos e os ímpios, quem Te impede?’ RASHI aqui interpreta, ‘Vós haveis
criado justos através da boa inclinação e Vós haveis criado ímpios através da
inclinação do mal. Assim, ninguém é salvo de Ti, pois quem impedirás [Tu]? Os
pecadores são coagidos.’’” Disto nós vemos que a boa inclinação é chamada “justo”
e a inclinação do mal é chamada “ímpio”).
Desta forma sucede-se que quando um não
tem boas acções, isso é somente porque o ímpio dentro de si está a liderar e o
justo no interior está ser puxado, ou seja seguindo o ímpio sem qualquer
permissão para protestar. Isto é considerado o justo estar em exílio, ou seja
que Israel nela está em exílio, colocada debaixo da governança das nações do
mundo e não tem autoridade própria.
Com isto podemos entender nosso queixume
para o Criador: “Vós não deveis … condenar o justo à morte juntamente com o
ímpio,” uma vez que a própria vida do ímpio é considerada morte. É como
disseram nossos sábios, “Os ímpios, nas suas vidas, são chamados ‘mortos,’ uma
vez que a vida que eles desfrutam neste mundo os previne de obterem a vida
eterna. Uma vez que a inteira intenção da criação, nomeadamente fazer o bem às
Suas criações, é inatingível enquanto estando longe do Criador, dado que “o
maldito não adere ao abençoado.” Desta forma, os ímpios nas suas vidas são
chamados de “mortos.” Este é o sentido dos ímpios serem sentenciados à morte.
E enquanto o justo está debaixo da
governança do ímpio ele não tem poder ou força para o superar, o justo, também,
é sentenciado à morte, uma vez que ele não consegue receber qualquer bondade do
Criador, pois o ímpio dentro dele interfere com aderir ao Criador. Logo, o
justo, também, é considerado morto. Este é o queixume para o Criador: “Vós não
deveis … condenar o justo à morte juntamente com o ímpio.” Isto é, o justo em
nós, a boa inclinação, não consegue fazer uma única coisa pois o ímpio não a
deixa atrair a vida espiritual.
Desta forma, quando um vê que não há boas
acções dentro dele, ele sabe que a razão é que o ímpio nele governa e Israel,
que é o justo, chamada a “boa inclinação,” está em exílio. Nessa altura pedimos
ao Criador e queixamos para Ele que Ele nos deu uma boa inclinação que é
impotente pois está no exílio e por esta razão o justo é sentenciado à morte,
também. Este é o sentido de “Não deveis fazer tal coisa.”
Porém, o Criador nos libertará do exílio
pois que uso há em termo uma boa inclinação, chamada “justo,” que é
completamente impotente? Sucede-se que a boa inclinação nos foi dada para nada.
Este é nosso queixume: “Condenar o justo à morte juntamente com o ímpio, como
se o justo fosse como o ímpio.” Isto é, é como se ambos estivessem a fazer a
mesma coisa. Contudo, o Criador terá misericórdia sobre nós e nos libertará do
exílio.
Isto pertence especificamente quando vemos
que não há boas acções em nós, ou que um sabe que esta é a única razão — que o
justo está em exílio debaixo da governança do ímpio.
É por isso que pedimos do Criador e
marcamos um sinal em Rosh Hashaná dizendo, “Que possamos
ser a cabeça e não a cauda.” Isto é, que Israel em nós sejam a cabeça e que os
ímpios sejam a cauda e então seremos recompensados com longa vida e a bondade
na intenção da criação, que é fazer o bem às Suas criações.
Que sejamos recompensados com boa escrita
e inscritos,
Baruch Shalom HaLevi Ashlag,
Filho de Baal HaSulam