Janeiro de 1958
Quem É o Eu?
Devemos
explicar quem é a pessoa que dizemos que deve ser um servo do Criador e em
retorno pelo qual ela receberá recompensa. Afinal, o homem consiste de 248
órgãos e alma da vida, que sustenta o corpo inteiro. A questão é, “Quem é o
operador, a mente, o coração, ou a alma da vida que os sustenta? E o que é o
eu, que foi prometido receber uma boa recompensa no futuro através de boas
acções?
Diz o
versículo, “E Deus criou o homem à Sua imagem.” O termo criação aplica-se
especificamente a algo novo, ou seja a uma realidade de existência a partir da
ausência, onde o Criador criou algo novo que não existia antes de Ele o ter
criado. Nossos sábios interpretaram que esta realidade é o “desejo de receber
prazer.” Esta é uma carência e vazio que agora deve ser preenchida. Não havia
carência antes de Ele a ter criado, pois antes desta criação havia somente
plenitude pois não pode ser dito que o Criador contenha uma carência. Desta
forma, esta é a única coisa nova, ou seja a vontade de receber.
Criação da Vontade de Receber
A
necessidade de criar a vontade de receber é pois interpretaram eles que o
propósito da criação era fazer o bem às Suas criações. O Criador deseja
conceder Sua bondade em prol de deleitar as criaturas e consequentemente, a
criação deve conter ser um Kli (vaso) para a recepção de
prazer. É impossível receber prazer se não há necessidade e carência por ele,
pois então não sentimos qualquer prazer.
Isto é
similar a uma pessoa que trata seu amigo com uma boa refeição, mas ele não tem
apetite e desta forma não consegue desfrutar da refeição, pois somente o anseio
pela comida determina a medida do prazer na refeição. Por esta razão, em prol
das criaturas desfrutarem dos Seus presentes, Ele imprimiu nas criaturas uma
natureza de sempre quererem receber prazer.
Este
discernimento que existe numa pessoa, nomeadamente o desejo de receber prazer,
é o todo do homem que o Criador criou. Tudo aquilo que falamos a respeito do
homem é nada mais que o desejo de receber. Foi dito sobre ele que ele se deve
envolver em Torá e Mitsvot(mandamentos) e no futuro lhe será
concedido prazer eterno. Isto é, o desejo de receber prazer será recompensado,
no fim do seu trabalho, com receber todo o prazer que o Criador contemplou lhe
dar.
Ao desejo de
receber foram dados órgãos para o servir e através dos quais ele deve receber
prazer. Isto é, eles trazem-lhe prazer. Estas são as mãos, pernas, visão,
audição e assim por diante. Todos eles são servos, ou seja que todos eles
servem o homem. Por outras palavras a vontade de receber é considerada o mestre
e todos os orgãos são seus servos, monitorando e certificando-se que todos eles
trabalham somente para o desejado propósito de trazer prazer, pois esse é o
desejo do senhorio, chamado “vontade de receber.”
Caso um dos
servos falte, o prazer associado a esse servo também faltará. Assim, se uma
pessoa é surda, ela não consegue desfrutar do som das canções. Se ela é
anósmica (carecendo do sentido de olfato), ela não consegue desfrutar da
fragrância dos perfumes. E caso lhe falte intelecto, que é nomeado sobre todos
os servos, como o gestor do negócio supervisionando sobre todos os servos, o
inteiro negócio daria errado e poderia inflingir perdas.
Isto é como
o dono de um negócio que tem muitos empregados mas um fraco gestor. Em vez de
lucrar, ele pode perder. Mas o dono permanece até quando não tem gestor, como
se o gestor estivesse doente e não pudesse gerir o negócio, mas o dono do
negócio ainda está vivo.
Isso é
semelhante aqui. Se uma pessoa não tem intelecto, chamado “servo,” mas o dono
está presente, ou seja que o desejo de receber não é perdido devido a isso e
aspiração a desfrutar permance — mas carece da aptidão de escrutinar — então
ele pode vender um grande prazer em troca de um pequeno. Por exemplo, se este
descuidado deseja um doce e o lojista lhe diz, “Dá-me dez libras e dou-te um doce,”
se for descuidado, ele lhe pode dar dez libras pelo doce pois não consegue
avaliar o preço do doce que ele quer.
Similarmente,
ele poderia causar danos, quebrar ferramentas e rasgar roupas pois pensa que
isso lhe dará certo tipo de prazer. Não fiques surpreso que possa haver prazer
em prejudicar. Diz-se sobre Aristóteles, o grande filósofo, que ele queimou uma
casa cara e grande pois queria comemorar seu nome, ou seja para que seu nome
ficasse para a posteridade. Ele pensava que pela mansão ser uma coisa valiosa,
seu nome seria recordado pois todos se recordariam da grande mansão que
Aristóteles havia queimado.
Assim, nós
vemos que as pessoas encontram prazer em prejudicar, também. Também, qualquer
acção que uma pessoa descuidada faça tem de lhe dar prazer e esse prazer a
obriga a fazer algumas coisas embora sejam más, dado que ela não consegue pesar
se é vantajoso causar grandes danos em troca de um pequeno prazer.
Sucede-se do
supracitado que a essência do homem é a vontade de receber prazer e nada mais.
Isto é, a mente, também, não é o corpo do homem, mas como acima foi dito.
A Respeito da Obra
A vontade de
receber, que é a essência do homem, é oposta ao Criador, nomeadamente que o
Criador é o dador. Em prol de ter equivalência de forma, ou seja que as acções
do homem também sejam somente para doar — ou os prazeres que ele recebe do
Criador não serão plenos pois ele vai experimentar vergonha neles, uma vez
que aquele que recebe um presente de outro tem vergonha de olhar para a sua
face e sente tormento aquando da recepção do prazer — por esta razão nos foram
dados a Torá e Mitsvot, com os quais adquirimos um novo poder de querer
doar contentamento sobre o Criador. Nessa altura seremos adequados para receber
todos os prazeres do Criador sem qualquer vergonha pois ele não receberá todos
esses prazeres por querer desfrutar, mas porque ele faz a vontade do Criador ao
aceitar o prazer, uma vez que o propósito da criação foi que as criaturas
recebessem prazer no munfo. Certamente, o trabalho inteiro se trata de alcançar
este grau de querer receber prazer somente pelo propósito de um Mitsva (mandamento/boa
acção).
Repeti as
palavras que disse verbalmente para que as possas também lembrar, pois estas
são as verdadeiras bases.
Do teu amigo
que te deseja e a tua família tudo de bom,
Baruch
Shalom HaLevi Ashlag