12 de Abril, 1957
Para os amigos, que vivam para sempre,
Já passou algum tempo desde que recebi
cartas de vocês. Embora saiba as desculpas há algum tempo, está também claro
para vocês que o maior problema é que tenham desculpas. Esperemos que o Criador
nos ajude.
Uma vez que o festival de Pessach se
aproxima, vamos falar um pouco sobre a questão do sangue dePesach e o
sangue da circuncisão. Dam (sangue) significa Demamá (silêncio/quietude),
como em, “E Aarão ficou silencioso” e “Fica silencioso pelo Senhor.” Isto é,
ele não questiona por que tem perguntas.
Para entender o citado devemos preceder
com as palavras dos nossos sábios. “Nossos sábios disseram, ‘Aqueles que são
ofendidos mas não ofendem, degradados mas não respondem, trabalham por amor e
se deleitam na dor, o versículo diz sobre eles, ‘E aqueles que O amam serão
como o sol nascente no seu poder.’’” RASHI interpreta que eles realizam Mitsvot (mandamentos)
por amor pelo Criador e não recebem recompensa e não por causa do medo da
calamidade (Gitin 36b).
Significa isto que quando uma pessoa
começa a trabalhar com grande esforço, mais do que ela recebeu por educação,
uma exigência se forma no seu coração. Finalmente, ela pergunta e diz que de
acordo com a medida do seu trabalho e labuta em Torá e Mitsvot além
dos seus contemporâneos o Criador se deveria ter revelado a ela há muito tempo
atrás e caso ele lhe tivesse revelado os sabores (também razões) da Torá e Mitsvot
e que devia ter brincado com ela, como está escrito, “Israel, em quem Eu Me
glorifico,” ou seja que o Criador brinca com os servos do Criador.
Todavia, ela vê o oposto — que através de
todo o seu trabalho e labuta, ela regridiu em comparação com seus
contemporâneos. Logo, em vez de ouvir a voz do Criador a falar com ela, ela
ouve sua própria desgraça, como está escrito, “Com a qual Teus inimigos
amaldiçoaram” (Salmos 89). Isto é, a sua não está a ser tratada adequadamente (sucede-se
que todo o seu trabalho e labuta em Torá e na obra estão em risco).
Nessa altura ela se sente ofendida,
insultada, pois ela está num grau superior aos seus contemporâneos. E embora em
tal altura ela não consiga ver qualquer sinal da grandeza dos seus
contemporâneos, ela ainda diz para si mesma, “Se outros tivessem o horário de
trabalho e conhecimento na Torá que eu tenho, o Criador certamente escutaria
suas palavras e seu trabalho não seria em vão (Eu misturei duas coisas juntas
aqui: mente, para queles que entendem e também desespero, para aqueles que
entendem).
É sabido que a verdade é o mais
importante, ou seja que “Tudo aquilo que um juíz tem é aquilo que seus olhos
vêem.” Desta forma, se ele vê seu verdadeiro estado, com todos os pensamentos
que incomodam sua mente, ele recebe disto duas cosias: 1) ele se sente
insultado — que não é tomado em consideração; 2) subsequentemente, ele chega ao
2º estado, onde ele ouve sua ofença. Por esta razão, nessa altura ele sente
grandes tormentos quando se tenta segurar a esse estado.
Este é o sentido de, “Que são ofendidos,”
que se sentem ofendidos, ou seja que ele não está a receber atenção. “…mas não
ofendem” ou seja que é como no operador e operação. A operação é que ele se
sente ofendido. O operador, que trabalha, é chamado “ofendido.” Ele diz que a
intenção do Criador não é o insultar, mas pelo contrário, é a conduta do
Criador fazer o bem.
Também, ele é “degradado mas não responde,”
ou seja que ele não inventa desculpas, como em “A Etiópia rapidamente estende
suas mãos para Deus” (Salmos 68).
A pergunta é “Qual é a verdade?” Isto é,
por que o Criador o fez sentir tamanho estado doloroso e baixo? A questão é que
quando uma pessoa começa a trabalhar em Lishma (pelo Seu bem),
ou seja não por qualquer recompensa pelo seu trabalho e assume sobre si mesma
tanto na mente e coração que sejam limpos, sem qualquer interesse pessoal, ela
é permitida do alto ver o seu estado — se sua direcção é verdadeiramente Lishma.
Então, se ela sobreviver ao teste, ela é deixada entrar no palácio do Criador e
senta-se na sombra do Rei.
Sucede-se que somente aqui, neste estado,
pode ela descubrir sua verdadeira medida de amor pelo Criador e não receber
recompensa pois agora ela nada tem senão dor. Isto é considerado no caminho da
Torá sendo, “Levarás uma vida de tristeza.” Por outras palavras, antes que um
passe pelo estado de “uma vida de tristeza,” em que o trabalho é suficiente
para achar o Criador, sua única garra é na graciosidade da santidade.
É como Baal HaSulam explicou sobre as
palavras de nossos sábios, “Uma mulher com uma garrafa cheia de fezes e todos
correm atrás dela.” É como eu vos expliquei na explicação que não pode ser
colocada em escrita. Isto é considerado “Ester era esverdeada e um fio de
graciosidade foi atraido sobre ela,” como em, “Seu pai certamente lhe cuspiu na
face.”
É aqui que precisamos de ajuda do alto e
este é o sentido do sangue de Pessach e o sangue da cincuncisão. Isto é, quando
nos podemos segurar e permanecer quietos no tempo da Torá, chamado Peh-Sach (Pesach [boca
falante]) e durante a realização das Mitsvot insinuadas no
mandamento de circuncidar, então somos recompensados com sair do exílio e
entrar na redenção, que são os sabores (e razões) da Torá e Mitsvot.
A carta permaneceu comigo e não a enviei.
Agora, amanhã vou para a América, ou seja no primeiro de Iyar TaShYaZ
(2 de Maio, 1957), então vos envio a carta.
Vosso amigo, Baruch Shalom HaLevi Ashlag