PREFÁCIO À SABEDORIA DA CABALÁ
Durante o estudo, é recomendado examinar os desenhos que
estão no fim do capítulo, HaIlan
O PENSAMENTO DA CRIAÇÃO E AS QUATRO FASES DA LUZ DIRETA
1)
Rabi Chanania filho de Akashia diz: “O Criador queria trazer mérito a Israel; portanto,
Ele lhes deu muita Torá e Mitzvot
(mandamentos), como está escrito, ‘O Senhor
estava contente, pelo bem da Sua retidão’, para fazer o ensinamento grande e
glorioso” (Makot, 23b). É sabido que “merecer” (Zechut) é derivado
da palavra “purificar” (Hizdak’chut). É como os nossos sábios disseram, “As Mitzvot foram
dadas somente para a purificação de Israel” (Bereshit
Raba, Parasha
44). Nós precisamos entender esta
purificação que alcançamos através da Torá e Mitzvot, e qual é a Aviut
(espessura, grossura, o desejo de receber)
que está dentro de nós, que devemos purificar usando a Torá e Mitzvot.
Uma
vez que nós já discutimos isto em meu livro “Panim
Masbirot” e no Estudo
das Dez Sefirot, eu resumidamente reiterarei aqui: O
Pensamento da Criação era deleitar as criaturas, de acordo com a Sua abundante
generosidade. Por esta razão, foi impresso nas almas um grande desejo e anseio
em receber Sua Shefá (Abundância).
Isto
é assim porque o desejo de receber é o Kli
(vaso) para a medida do prazer na Shefá. De
acordo com a medida e força do desejo de receber a Shefá, assim
é a medida correspondente do prazer e deleite na Shefá, nem
mais e nem menos. E eles estão tão intimamente conectados, que nós não os
diferenciamos exceto no que eles se relacionam: o prazer está relacionado à Shefá, e o
grande desejo de receber a Shefá
está relacionado à criatura que a recebe.
Estes
dois necessariamente se estendem do Criador, e necessariamente vieram no
Pensamento da Criação. Entretanto, nós diferenciamos entre eles naquela Shefá que vem
da Sua Essência, estendendo existência a partir da existência, enquanto que o
desejo de receber incluído ali é a raiz das criaturas. Isto significa que é a
raiz de algo recém criado, isto é, surgido da existência a partir da ausência,
uma vez que certamente não existe a forma do desejo de receber em Sua Essência.
Portanto,
nós podemos dizer que este desejo de receber mencionado acima é toda a
substância da Criação do início ao fim. Isto é, a medida que todos os incontáveis
tipos de criaturas, todas as incontáveis instâncias e todas as suas condutas que
apareceram e que aparecerão, são nada além de medidas e várias denominações do
desejo de receber. E tudo o que existe nas criaturas, ou seja, tudo o que é
recebido no desejo de receber impresso em sua natureza, estende de Sua Essência
existência a partir da existência. Não é de forma alguma uma nova criação, pois
não é nada novo.
Pelo
contrário, se estende de Sua Eternidade existência a partir da existência.
2)
E de acordo com o que foi dito, o desejo de receber está inatamente incluído no
Pensamento da Criação com todas as suas inumeráveis denominações, juntamente
com a grande Shefá que Ele pensou deleitar e transmitir a elas. E saiba que este é
o segredo do Ohr (Luz) e Kli
que nós discernimos nos Mundos Superiores.
Eles
vêm necessariamente conectados uns aos outros e descem cascateando juntos degrau
por degrau. E a medida a qual os degraus descem da Luz de Sua Face, e se distanciam
dEle, é a medida correspondente da materialização do desejo de receber contido
na Shefá.
Nós
poderíamos também declarar o oposto: que de acordo com a medida em que o desejo
de receber incluído na Shefá
se materializa, ele desce degrau por
degrau, como será explicado. Os níveis descem até o mais baixo de todos os
lugares, onde o desejo de receber se torna completamente materializado. Este
lugar é chamado “o mundo de Assiá”, o desejo de receber é considerado “o corpo humano”, e a Shefá que é
recebida é considerada a medida de “vitalidade naquele corpo”.
Isto
é similar em outras criaturas neste mundo, de forma que a única diferenciação
que existe entre os Mundos Superiores e este mundo é que enquanto o desejo de
receber incluído em Sua Shefá
não for materializado completamente, ele é
considerado como estando nos mundos espirituais, Acima deste mundo. E uma vez
que o desejo de receber se materializou totalmente, ele é considerado como estando
neste mundo.
3)
A ordem do cascateamento mencionada acima, que leva o desejo de receber à sua
forma final neste mundo, segue a sequência dos quatro discernimentos que existe
no nome de quatro letras, HaVaYaH. Isto é porque as quatro letras, HaVaYaH (Yud, Hey, Vav, Hey), no Seu Nome contém toda a realidade, sem qualquer aspecto da
realidade ser deixada fora dele.
No
geral, elas são descritas nas dez Sefirot,
Chochmá, Biná, Tiféret, Malchut e sua Shóresh (Raiz).
Elas são dez Sefirot porque a Sefirá
Tiféret contém seis Sefirot internas
chamadas CHAGAT NEH”Y (Chéssed–Gvurá–Tiféret Netzach–Hod–Yessód), e a Raiz, chamada Kéter. Mas em sua essência, elas são chamadas CHÁB TUM (Chochmá–Biná Tiféret–Malchut).
Lembre-se disto.
E
eles são quatro mundos, chamados: Atzilut, Briá, Yetzirá e Assiá. E o mundo de Assiá
contém “este mundo” dentro de si. Portanto,
não existe criatura neste mundo, que não tenha sido feita nova do mundo de Ein Sóf, no
Pensamento da Criação, que é deleitar Suas criaturas, como dissemos
anteriormente. Assim, está inatamente composto de Luz e Kli, ou
seja, uma certa medida da Shefá
com o desejo de receber esta Shefá.
A
medida da Shefá se estende da Sua Essência – existência a partir da existência,
e o desejo de receber esta Shefá
é novo – existência a partir da ausência, como
dissemos anteriormente.
Mas
para que est desejo de receber adquira sua forma final, ele precisa cair em
cascata junto com a Shefá dentro de si através dos quatro mundos – Atzilut, Briá, Yetzirá e Assiá. Então
a criatura é completada em Luz e Kli, chamado Guf
(corpo), e a “Luz da Vida” dentro de si.
4)
A razão pela qual o desejo de receber precisa cair em cascata pelos quatro discernimentos
mencionados acima em ABYA (Atzilut, Briá, Yetzirá, Assiá) é que existe uma grande regra no que diz respeito aos Kelim (plural
de Kli): a expansão da Luz e sua partida
torna o Kli apto para sua tarefa. Explicação:
Enquanto o Kli não tenha sido uma vez separado de sua Luz, ele está incluído na
Luz e é anulado dentro dela tal como uma vela frente a uma tocha.
E
a ideia desta nulificação é que eles são completamente opostos um do outro, de
um extremo ao outro. Isto é assim porque a Luz é a Shefá que se
estende de Sua Essência existência a partir da existência. Da perspectiva do
Pensamento da Criação em Ein
Sóf, tudo é em direção à doação e não existe
nenhum traço do desejo de receber nele. Seu oposto é o Kli, que é o
grande desejo de receber esta Shefá, que é a raiz da nova criatura, na qual não existe qualquer
aspecto de doação.
Portanto,
quando eles são unidos juntos, o desejo de receber é anulado na Luz dentro
dele, e ele é incapaz de determinar sua forma até que a Luz tenha partido dali
uma vez. Isto é assim porque seguindo a partida da Luz dele, este começa a suplicar
por ela, e esta súplica define e delineia a forma do desejo de receber como convém.
Subsequentemente, quando a Luz retorna e é vestida no desejo de receber, eles
são considerados agora como dois aspectos separados: Kli e Luz,
ou Guf e Vida.
E
observe isto atentamente, porque isto é muito profundo.
5)
E portanto, nós precisamos dos quatro discernimentos que estão no nome HaVaYaH,
chamados Chochmá, Biná, Tiféret e Malchut. Bechiná Álef (Fase Um), chamada
Chochmá, inclui a totalidade do ser emanado, Luz e Kli. Isto
é porque o grande desejo de receber está nela com toda a Luz, chamada Ohr Chochmá (Luz da
Sabedoria) ou Ohr Chaiá (Luz da Vida), pois ela é toda a Chayim (Vida)
no ser emanado, vestida em seu Kli.
Entretanto esta Bechiná Álef é
considerada completamente Luz e o Kli
nela é quase imperceptível, já que está
misturado com a Luz e anulado nela tal como uma vela frente a uma tocha.
A seguir, vem Bechiná
Bet (Fase Dois), pois em seu estágio final, o Kli
de Chochmá
prevalece em Similaridade de Forma com a
Luz Superior dentro de si. Isso significa que é despertado um desejo de doar ao
Emanador, de acordo com a natureza da Luz dentro de si – inteiramente para
doar.
Assim,
usando este desejo, que foi despertado nela, uma nova Luz se estende para ela
do Emanador, chamada Ohr Chassadim (Luz da Misericórdia). Como resultado, ela se tornou quase
totalmente separada da Ohr
Chochmá dada a ela pelo Emanador, isto é porque o Ohr Chochmá só pode
ser recebida em seu próprio Kli
– que é o grande desejo de receber em toda
sua medida, como discutido acima.
Desta
maneira, a Luz e o Kli na Bechiná Bet são completamente diferentes daqueles em Bechiná Álef, uma
vez que nela o Kli é o desejo de compartilhar e a Luz dentro dele é considerada Ohr Chassadim, uma
Luz que se origina da Dvekút (adesão) do emanado no Emanador, pois o desejo de compartilhar
induz sua Similaridade de Forma com o Emanador e na espiritualidade
Similaridade de Forma é Dvekút, como será explicado posteriormente.
A seguir vem Bechiná
Guimel (Fase Três). Isto é porque após a diminuição da Luz dentro do ser emanado
em Ohr Chassadim sem nenhuma Chochmá, embora se saiba que Ohr
Chochmá é a essência do ser emanado, portanto Bechiná Bet em seu estágio
final é despertada e atrai dentro de si mesma uma medida de Ohr Chochmá, para
brilhar em seu Ohr Chassadim. Este despertar reacendeu certa medida do desejo de receber,
que forma um novo Kli chamado Bechiná
Guimel ou Tiféret.
E a Luz nele é chamada “Luz de Chassadim com
iluminação de Chochmá” uma vez que a maior parte daquela Luz é Ohr Chassadim e, sua
menor parte é Ohr Chochmá.
A seguir, vem Bechiná
Dálet (Fase Quatro), uma vez que o Kli
de Bechiná
Guimel também despertou em seu estágio final para
atrair Ohr Chochmá em completa medida, tal como ocorreu em Bechiná Álef. Assim,
este despertar é considerado “anseio” na medida do desejo de receber que estava
em Bechiná Álef e, o superando, pois agora ela já se separou daquela Luz, pois o
Ohr Chochmá não é vestido nele e ele anseia por ele. Portanto, a forma do
desejo de receber foi inteiramente determinada, uma vez que o Kli é
determinado seguindo a expansão da Luz e sua partida dali. Mais tarde, quando
ela retorna e recebe novamente a Luz, vemos que o Kli precede
a Luz.
Portanto,
esta Bechiná Dálet é considerada a conclusão do Kli
e é chamada de Malchut.
6)
Estes quatro discernimentos mencionados acima são as dez Sefirot, discernidas
em cada emanação e em cada criatura, num todo, que são quatro mundos e, até
mesmo na menor parte na realidade. Bechiná
Álef é chamada Chochmá
ou “o mundo de Atzilut”; Bechiná Bet é
chamada Biná ou “o mundo de Briá”; Bechiná Guimel é chamada Tiféret
ou “o mundo de Yetzirá” e Bechiná Dálet é
chamada Malchut ou “o mundo de Assiá”. E vamos explicar os quatro discernimentos aplicados em cada
alma:
Quando
a Neshamá (Alma) é estendida de Ein
Sóf e vai para o mundo de Atzilut, ela é
Bechiná Álef da Alma. Todavia, lá ela ainda não é discernida por esse nome,
uma vez que o nome Neshamá (alma) implica que existe alguma diferença entre ela e o
Emanador e que através desta diferença, ela partiu de Ein Sóf e
revela sua própria vontade.
E
enquanto ela não tem uma forma de um Kli, não há nada que a separe de Sua Essência, a ponto de merecer
ser chamada pelo próprio nome. E você já sabe que Bechiná Álef do Kli não é
considerada de modo algum um Kli
e, é totalmente anulada na Luz. E este é o
significado do que foi dito sobre o mundo de Atzilut, que é completa Divindade, no segredo de “Hu (Ele),
Suas Chayohi (Emanações Vivificantes) e Seus Garmohi (Órgãos)
são Um” 25. Até
mesmo as almas de todas as criaturas viventes, enquanto atravessam o mundo de Atzilut, ainda
são consideradas ligadas à Sua Essência.
7)
E no mundo de Briá está governando agora a Bechiná
Bet mencionada acima, ou seja, o aspecto do Kli do
desejo de compartilhar. Por conseguinte, quando a alma desce em cascata ao
mundo de Briá e adquire o aspecto do Kli
que existe ali, ela é diferenciada com o
nome Neshamá (alma). Isto significa que ela já saiu e se separou da Sua
Essência e merece seu próprio nome – Neshamá. Porém, este é um Kli
muito puro e fino, uma vez que ele está em
Similaridade de Forma com o Emanador. Por isso, ele é considerado completamente
espiritual.
8)
E no mundo de Yetzirá está governando agora a Bechiná
Guimel mencionada acima, contendo uma pequena
quantidade da forma do desejo de receber. Portanto, quando a alma cai em
cascata para o mundo de Yetzirá
e adquire aquele Kli, ela
sai do aspecto espiritual de Neshamá
e é então chamada Ruach. Isto
é porque aqui seu Kli já está misturado com um pouco de Aviut, ou
seja, uma pequena quantidade do desejo de receber nele. Todavia, ela ainda é
considerada espiritual, por que essa medida de Aviut é
insuficiente para separá-la completamente de Sua Essência e merecer o nome “corpo”,
que se mantém por si próprio.
9)
E no mundo de Assiá está governando agora a Bechiná
Dálet, que é o Kli
completo do grande desejo de receber, como
mencionado acima. Assim, lá é atingido um corpo completamente separado e
distinto de Sua Essência, que se mantém por si próprio. A Luz nele é chamada Néfesh (da
palavra Hebraica “descanso”), indicando que a Luz está imóvel em si mesma. E
saiba que não há um pequeno detalhe da realidade que não contenha toda ABYA.
10)
Assim descobrimos como esta Néfesh, que é a Luz da Vida vestida no corpo, se estende de Sua
Própria Essência, existência a partir da existência. E conforme atravessa os
quatro mundos ABYA, ela se torna cada vez mais distante da Luz de Sua Face, até
que chega ao seu Kli designado, chamado Guf
(corpo). Então é considerado que o Kli completou
sua forma desejável.
E
até mesmo se a Luz dentro dele diminuísse tanto, ao ponto que não há mais
consciência da sua raiz de origem, através da aplicação em Torá e Mitzvot com a
intenção de dar contentamento ao Criador, a pessoa gradualmente purifica seu Kli, chamado
Guf, até que ele se torne merecedor de receber a grande Shefá, em
toda a medida incluída no Pensamento da Criação no tempo em que foi criado. E
isto é o que Rabi Chanania diz “O Criador queria trazer mérito a Israel;
portanto, Ele lhes deu muita Torá e Mitzvot”.
11)
E com isso você pode entender a verdadeira barreira para diferenciar entre
espiritualidade e corporeidade: Quando há um desejo de receber completo, em
todos os seus aspectos, que é Bechiná
Dálet, ele é chamado “corpóreo”. E isto é encontrado
em todos os elementos da realidade que vemos diante de nossos olhos neste
mundo. Enquanto ele estiver acima da medida deste grande desejo de receber, ele
é chamado pelo nome “espiritualidade”, que são os mundos de ABYA – Acima
deste mundo – e toda a realidade dentro deles.
E
com isto entenda que todo o conceito de subidas e descidas descrito nos Mundos
Superiores, não está relacionada a um lugar imaginário, Deus proíba, mas apenas
aos quatro discernimentos no desejo de receber. Pois aquilo que está mais distante
de Bechiná Dálet é considerado ser mais Elevado.
Reciprocamente, aquilo que está mais
próximo de Bechiná Dálet, é considerado mais inferior.
12)
O ponto central e a totalidade da Criação são nada além do desejo de receber. O
que está além disto, não está na categoria da Criação, mas estende-se de Sua
Essência através da existência a partir da existência. Portanto, por que discernimos
este desejo de receber como Aviut
(espesso) e túrbido e, somos ordenados a
purificá-lo através da Torá e Mitzvot, ao ponto que sem isto, não atingiremos a meta sublime do
Pensamento da Criação?
13)
E a razão é que, assim como os objetos corpóreos são separados um do outro pela
distância física, os espirituais são separados um do outro pela Diferença de
Forma entre eles. Isto também pode ser encontrado em nosso mundo. Por exemplo:
Quando duas pessoas compartilham os mesmos pontos de vista, elas amam uma a
outra, e a distância física não causa efeito sobre elas quando elas estão distantes
uma da outra.
Por
outro lado, quando suas opiniões são distantes, elas se odeiam uma a outra e, a
proximidade física não as trará mais próximas. Portanto, a Diferença de Forma
em suas opiniões as distancia uma da outra e a proximidade de forma em suas
opiniões as aproxima. E se, por exemplo, a natureza de uma delas está em todos os
aspectos da natureza oposta da outra, então elas estão tão distantes uma da
outra como o Leste do Oeste.
E
desta forma compreenda que na espiritualidade, todos as questões de distância e
proximidade, Zivug (acoplamento) e Yichud
(unificação) que é discernido nelas, são
nada além de medidas de Diferença de Forma. Elas se distanciam uma da outra
conforme suas medidas de Diferença de Forma e se tornam ligadas uma a outra conforme
sua medida de Similaridade de Forma.
E
com isto entenda que embora o desejo de receber seja um princípio intrínseco na
criatura, pois ele é toda a essência da Criação dentro da criatura, e é o Kli apropriado
para recepção da meta que está no Pensamento da Criação, no entanto, isto
separa completamente a criatura do Emanador. Isto é assim, porque existe a
Diferença de Forma no ponto de oposição entre ela mesma e o Emanador.
Isto,
porque há uma Diferença de Forma entre a criatura e o Emanador ao nível de serem
opostos, pois o Emanador é completa doação sem nenhuma centelha de recepção e,
a criatura é completa recepção sem nenhuma centelha de doação.
Portanto,
não há maior oposição de forma do que esta. Resulta, portanto, que esta oposição
de forma necessariamente separa a criatura do Emanador.
14)
Para salvar as criaturas desta separação titânica, foi feito o segredo do Tzimtzum Álef (Primeira
Restrição). A ideia é que, a Bechiná
Dálet que nós falamos é separada de todos os Partzufim (faces/semblantes)
de Kedushá (santidade), de tal maneira que aquela grande medida de recepção
permaneceu em um espaço vazio, desprovido de toda Luz.
Isto
é assim porque todos os Partzufim
de Kedushá
emergiram com uma Massach (tela)
erguida em seus Kli Malchut para que eles não recebessem nesta Bechiná Dálet. Então,
quando a Luz Superior foi estendida e se espalhou nos seres emanados, este Massach a
rejeitou de volta. Isto é considerado como se houvesse um impacto entre a Luz
Superior e a Massach, que eleva Ohr
Chozêr (Luz Retornante) de baixo para Cima,
vestindo as dez Sefirot da Luz Superior.
A
porção da Luz que é rejeitada e empurrada de volta, é chamada de Ohr Chozêr (Luz
Retornante). Conforme veste a Luz Superior, ela se torna um Kli para recepção
da Luz Superior ao invés de Bechiná
Dálet, a razão para isso é que o Kli de Malchut foi
expandido por meio do Ohr Chozêr – a Luz rejeitada ou retornante – que subiu e vestiu a Luz
Superior de baixo para Cima e, também expandiu de Cima para baixo. Assim, as
Luzes foram vestidas nos Kelim
(plural de Kli),
dentro do Ohr Chozêr.
Este
é o segredo de Rosh (cabeça) e Guf
(corpo) em cada grau. O Zivug de Haka’á (acoplamento
por choque) da Luz Superior impactando na Massach
causa a subida do Ohr Chozêr de
baixo para Cima e veste as dez Sefirot
da Luz Superior na forma das dez Sefirot de Rosh, ou
seja, as raízes dos Kelim (vasos). Isto é assim, porque lá não pode haver um revestimento
real.
Posteriormente,
quando Malchut se expande com Ohr
Chozêr de Cima para baixo, o Ohr Chozêr termina
e se torna Kelim para a Luz Superior. Então, as Luzes são vestidas nos Kelim e isto
é chamado de “Guf desse grau”, isto é, Kelim
completos.
15)
Assim, novos Kelim foram feitos nos Partzufim
de Kedushá
no lugar de Bechiná Dálet, após o Tzimtzum Álef (Primeira
Restrição). Eles foram feitos do Ohr
Chozêr do Zivug
de Haka’á na Massach.
De
fato, devemos entender este Ohr
Chozêr e como ele se torna um Kli HaCabalá (Vaso
de Recepção), já que inicialmente era apenas uma Luz rejeitada. Assim, ele está
cumprindo agora um papel oposto em relação a sua própria essência. Eu
explicarei isto com uma alegoria da vida: A natureza do homem é estimar e
favorecer a qualidade de doar e desprezar e detestar a recepção de um amigo.
Portanto,
quando uma pessoa vai ao seu amigo e ele (o anfitrião) a convida para uma refeição,
ela (o convidado) recusará, mesmo que esteja faminta, já que aos seus olhos é
humilhante receber um presente de seu amigo.
No
entanto, quando seu amigo lhe implora suficientemente, até que fique claro que
ao comer, ela estará fazendo um grande favor ao seu amigo, ela aceita comer, já
que não sente mais que está recebendo um presente e, que seu amigo é o doador.
Pelo contrário, ela (o convidado) é o doador, que está fazendo um favor ao seu
amigo por estar recebendo este benefício dele.
Assim,
você descobre que embora a fome e o apetite sejam vasos de recepção designados
para comer e, que esta pessoa tinha fome e apetite suficientes para receber a
refeição de seu amigo, ela ainda não podia experimentar nada, devido à vergonha.
Porém, quando seu amigo começou a lhe implorar e, ela continuou a resistir,
novos vasos começaram a se formar dentro dela para comer, uma vez que a força
das súplicas de seu amigo e a força da sua própria resistência, conforme se acumulavam,
finalmente se acumularam em uma quantidade suficiente para transformarem, a
medida de recepção, em medida de doação.
Isto
a leva a entender que, ao comer, estará fazendo um grande favor e trazendo
grande contentamento ao seu amigo. Nesse estado, a pessoa consequentemente
atinge novos vasos de recepção, para receber a refeição de seu amigo. Agora
vemos que a força da resistência se tornou o vaso principal para receber a
refeição e não a fome e o apetite, embora eles sejam verdadeiramente os vasos usuais
de recepção.
16)
Da alegoria acima entre a pessoa e seu amigo, podemos entender a questão do Zivug de Haka’á mencionado
acima, e o Ohr Chozêr que se eleva através dele, que então se torna novos vasos de
recepção para a Luz Superior ao invés da Bechiná
Dálet. Podemos comparar a Luz Superior, que se
choca com a Massach e quer se expandir na Bechiná
Dálet, ao amigo suplicando a pessoa a comer,
pois assim como ele anseia que seu amigo receba a sua refeição, a Luz Superior
deseja se espalhar ao receptor. E a Massach, que se choca com a Luz e a repele, se assemelha a resistência e
a rejeição do amigo em receber a refeição, uma vez que ele rejeita seu favor.
Nós
encontramos aqui, que é precisamente a resistência e a rejeição que se tornaram
os vasos apropriados para receber a refeição do amigo. Isto pode ser comparado
à Ohr Chozêr que se eleva pelo choque da Massach, e a rejeição da Luz Superior, este Ohr Chozêr se torna
um novo vaso de recepção para a Luz Superior, ao invés de Bechiná Dálet, que
serviu como vaso de recepção antes do Tzimtzum
Álef (Primeira Restrição).
Entretanto,
isto foi colocado apenas nos Partzufim
(plural de Partzuf) de Kedushá (santidade)
de ABYA, não nos Partzufim
das Klipót
(cascas) e neste mundo, onde a própria Bechiná Dálet é
considerada o vaso de recepção. Assim, elas são separadas da Luz Superior, já
que a Diferença de Forma em Bechiná
Dálet as separa.
Por
esta razão, as Klipót são consideradas más e mortas, pois elas são separadas da Vida
das Vidas pelo desejo de receber dentro delas. Isto é mencionado acima no Item
13 (veja lá). Examine isto profundamente, pois é impossível explicar mais.
[25] Nota do tradutor: em Hebraico, Hu se refere à “Sua
Essência”, Chayohi à “Luz Emanada” e Garmohi ao “Kli”.
Rav Yehuda Ashlag, Baal HaSulam
Conforme publicado no livro Cabala para o Estudante