Vem ao Faraó 2
Artigo Nº 13, 1985-86
O Zohar pergunta: "Está escrito: “Vem ao Faraó”, mas deveria ter dito: “Vai ao Faraó”, etc. Como o Criador viu que Moisés estava com medo e outros emissários designados não conseguiam aproximar-se dele, o Criador disse: “Eis que Eu estou contra ti, Faraó, rei do Egipto, maior monstro que há no meio do Nilo”. O Criador teve de declarar guerra contra ele, e nenhum outro, como está escrito: “Eu sou o Senhor”, ao que eles explicaram: “Eu e não um mensageiro”. Até aqui as suas palavras (no início da parte Bo [Vem]).
A diferença entre "vem" e "vai" é que "vem" significa que devemos caminhar juntos, como uma pessoa diz ao seu amigo: "Vem".
Devemos entender isto porque O Zohar pergunta porque o Criador precisava de ir com Moisés. É porque Moisés sozinho não podia lutar contra ele, apenas o próprio Criador e nenhum outro. Assim, porque precisou ele que Moisés fosse com o Criador? Afinal, ele diz: "Eu e não um mensageiro". Assim, para que é que o Criador vai ao Faraó, que é chamado de "grande monstro", com Moisés? Ele poderia ter ido ao Faraó sem Moisés.
Devemos também entender o que nossos sábios disseram (Kidushin [Matrimónio] 30b): "Rish Lakish disse: "a inclinação do homem supera-o todos os dias e procura matá-lo, como se diz: "O ímpio espreita o justo" e se o Criador não o ajudasse, ele não conseguiria superá-la, como é dito: "O Senhor não o deixará nas suas mãos"".
Aqui, também, surge a pergunta: "Se uma pessoa não consegue prevalecer por si mesma e precisa da ajuda do Criador, porquê esta duplicação?" Por outras palavras, ou o Criador dava a uma pessoa a força para superar sozinha ou o Criador fazia tudo. Porque parecem ser necessárias duas forças aqui, a do homem e, subsequentemente, a força do Criador? É como se só as duas conseguissem conquistar o mal, e uma força fosse insuficiente.
É conhecido que a perfeição do homem é que ele deve atingir o propósito da criação para obter o propósito pelo qual o mundo foi criado, o qual é chamado de "fazer bem às Suas criações". Por outras palavras, as criaturas deverão vir a receber o prazer e deleite que Ele preparou para deliciá-las.
Antes disso, a criação não é considerada ainda uma criação própria do Criador, pois é sabido que, do Operador perfeito, devem emergir operações perfeitas. Isto significa que todos deverão sentir a beleza da criação e serão capazes de louvar e glorificar a criação, que todos serão capazes de glorificar e agradecer ao Criador pela criação que Ele criou, e que todos serão capazes de dizer: "Abençoado seja Ele que disse: "Haja o mundo"". Por outras palavras, toda a gente deve abençoar o Criador por ter criado um mundo bom, cheio de prazeres, onde toda a gente é alegre e feliz devido ao contentamento que sentem de todos os prazeres que estão experienciando no mundo.
No entanto, quando uma pessoa começa a analisar se está realmente satisfeita com a sua vida e quanto contentamento está realmente a extrair de si mesma e do seu ambiente, ela vê o oposto: toda a gente está sofrendo, atormentada, e cada pessoa sofre de maneira diferente. Mas uma pessoa deveria dizer: "Bendito seja Aquele que disse: “Haja o mundo”", e então ela verá que só o está dizendo superficialmente.
No entanto, sabe-se que o prazer e o deleite não podem aparecer no mundo antes de o mundo possuir Kelim (vasos) de doação, uma vez que os nossos vasos de recepção ainda estão contaminados com auto-recepção, que está fortemente limitada na sua dimensão e nos separa do Criador (ou seja, que existiu a primeira restrição nos vasos de recepção para que a abundância não brilhasse aí, ver na "Introdução do Livro do Zohar", pág. 138).
É na obtenção dos vasos de doação que as disputas e as guerras começam, já que é contra a nossa natureza. E é por isso que nos foram dados a Torá e os Mitzvot, para alcançarmos o grau de doação, como os nossos sábios disseram: "Eu criei a inclinação má, eu criei o tempero da Torá " (Kidushin 30).
Além disso, foi-nos dado o Mitzva (mandamento/boa acção) de "ama o teu amigo como a ti mesmo", e Rabbi Akiva disse: "Esta é a grande regra da Torá" (Beresheet Rabba, Parasha 24). Por outras palavras, trabalhando no amor de amigos, uma pessoa habitua-se a sair do amor-próprio e a atingir o amor dos outros.
No entanto, devemos compreender o que vemos diante de nós, que há pessoas que praticam o amor de amigos e ainda não se aproximaram um milímetro do amor do Criador, para que possam trabalhar em Torá e Mitzvot, devido ao amor do Criador. Isto significa que eles dizem que, de facto, estão avançando um pouco no amor de amigos, mas eles não vêem progresso no amor do Criador. No entanto, devemos saber que também no amor de amigos existem graus, o que significa que devemos contemplar a obrigação de amor de amigos.
Podemos compará-lo a um prédio de dois andares com um rés-do-chão, igualmente... O Rei está no segundo andar, e quem queira chegar ao Rei (cujo único objectivo seja conversar com o Rei cara-a-cara) é-lhe dito que deve primeiro subir ao primeiro andar, uma vez que é impossível subir ao segundo andar sem subir primeiro ao primeiro andar.
Certamente, todos entendem que isto é assim. No entanto, há um motivo pelo qual eles devem primeiro subir ao primeiro andar: é chamado de "correcções". Por outras palavras, ao subir ao primeiro andar, uma pessoa pode aprender como dirigir-se ao Rei cara-a-cara, e será capaz de pedir a sua vontade ao Rei.
Essa pessoa, que ouve que primeiro tem de subir ao primeiro andar e, depois, ao segundo andar, entende-o muito bem. Mas dado que o seu único desejo é ver o rosto do Rei e ele não se preocupa com mais nada, isso faz com o que lhe é dito (que tem que subir ao primeiro andar) seja um fardo e um trabalho árduo para ele.
No entanto, ele não tem escolha, portanto ele sobe ao primeiro andar. Ele não está interessado em ver o que está lá, embora tenha ouvido dizer que o primeiro andar é onde se aprende a falar com o Rei. Mas ele não presta atenção a isso, pois não é este o seu objectivo. O seu objectivo é o Rei, não o que ele pode aprender no primeiro andar. O seu objectivo não é o estudo, mas sim ver o rosto do Rei. Porque deveria ele perder tempo com trivialidades, dado que tudo é nada quando comparado com o Rei? Assim, por que deveria ele ter interesse no que é ensinado no primeiro andar?
Assim, quando sobe ao primeiro andar, ele não tem vontade de ficar lá. Pelo contrário, ele pretende subir rapidamente para o segundo, para o próprio Rei, porque isto é tudo o que ele quer. No entanto, é-lhe dito: "Sem conheceres as regras que se cumprem no primeiro andar, vais certamente manchar a honra do Rei. Por esta razão, não podes esperar ser capaz de subir ao segundo andar antes de aprenderes tudo o que há para aprender no primeiro andar ".
Da mesma forma, com o amor de amigos, ouvimos que era impossível ser-se recompensado com o amor do Criador antes de se ser recompensado com o amor de amigos, como Rabbi Akiva disse: "ama o teu amigo como a ti mesmo é a grande regra da Torá". Assim, ao envolver-se no amor de amigos, ele não está a considerar o amor de amigos como sendo valioso, mas sim redundante.
Ele mantém-no porque não tem escolha, mas ele está constantemente à procura do momento em que "serei recompensado com o amor do Criador, e serei capaz de livrar-me do amor de amigos. Este trabalho é pesado para mim porque dificilmente consigo suportar os meus amigos, pois vejo que todos eles têm características diferentes das minhas e não tenho nada em comum com eles. Mas não tenho escolha, já que me disseram que sem o amor dos amigos não serei capaz de conseguir obter o amor do Criador. Assim, contra a minha vontade, eu sento-me com eles.
"No entanto, posso perguntar a mim mesmo: “O que estou obtendo dos amigos?” Só uma coisa: estou corrigindo-me pela atormentação própria ao sentar-me com eles e tolerar as suas conversas, que não gosto e que são contra a minha natureza. Mas que posso fazer? Disseram-me que tenho que sofrer neste mundo, portanto faço-o: sento-me e espero pelo momento em que possa fugir deles e evitar ver a mesquinhez que vejo neles ".
Sucede que ele não está extraindo do amor de amigos o remédio chamado "amor dos outros", mas apenas por lhe ter sido dito que ele não tem escolha, caso contrário ele não conseguirá atingir o amor do Criador. Esta é a razão pela qual ele se envolve no amor de amigos e cumpre todas as obrigações que os amigos lhe atribuem. Mas o que ele deve aprender com eles está a quilómetros de distância dele.
Isto significa que ele não está saindo do amor-próprio e não está atingindo o amor dos outros. Ele está mantendo o amor de amigos não por amor, mas por medo, dado que ele não é permitido no amor do Criador antes de entrar no amor de amigos. Como resultado, ele teme não manter o amor de amigos porque não será admitido no amor do Criador.
Isto é semelhante à alegoria sobre não ser admitido ao segundo andar, onde está sentado o Rei, antes de subir ao primeiro andar. A ideia é que ele aprenderá as regras sobre como manter a honra do Rei, pelo que se afigura razoável que ele fique feliz de subir ao primeiro andar, já que agora ele está aprendendo a preservar a honra do Rei.
Seria proveitoso para ele, porque depois, quando entrar no palácio do Rei, ele não manchará a honra do Rei. E, portanto, enquanto ele está no primeiro andar, ele presta atenção a todas as regras que se aplicam aí e vai-se acostumando a elas, dado que ele quer chegar ao Rei, para doar ao Rei, e não desdenhar minimamente a honra do Rei.
Isto só diz respeito a quem pretende apresentar-se perante o Rei para Lhe dar satisfação. Mas quem pretenda chegar à presença do Rei para recepção própria, considera redundante o que se encontra no primeiro andar. Não tem qualquer interesse para ele. Ele sobe até ao primeiro andar só porque tem medo, pois sabe que não lhe será permitido subir ao segundo andar antes de subir ao primeiro andar. Ele não sente nenhuma necessidade de estudar as leis que são ensinadas aí (como evitar manchar a honra do rei) dado que a única razão pela qual ele quer apresentar-se perante o Rei é por fins de amor próprio.
Portanto, devemos saber que nos foi dado o amor de amigos para aprendermos como evitar manchar a honra do Rei. Por outras palavras, se ele não tem outro desejo senão dar satisfação ao Rei, ele certamente manchará a honra do Rei, o que é chamado: "Passando Kedusha (santidade) para os externos". Por esta razão, não devemos subestimar a importância do trabalho no amor de amigos, pois através dele ele aprenderá a sair do amor-próprio e a entrar no caminho do amor dos outros. E quando ele completar o trabalho de amor de amigos, ele poderá ser recompensado com o amor do Criador.
Devemos saber que existe uma virtude no amor de amigos: uma pessoa não se pode enganar a si mesma e dizer que ama os amigos se de facto não os amar. Aqui ele pode examinar se realmente tem amor de amigos ou não. Mas, com o amor do Criador, uma pessoa não consegue examinar se a sua intenção é o amor do Criador, ou seja, se ele quer doar ao Criador ou se o seu desejo é receber pelo fim de receber.
Mas devemos saber que, após todas as correcções dadas ao homem para realizar sem a ajuda do Criador, não lhe será concedido nenhum progresso no trabalho de doação. E nós perguntamos: "Porque, então, deveria uma pessoa fazer as coisas para ser recompensada mais tarde com a ajuda do Criador? Afinal, o Criador pode ajudar mesmo sem o trabalho dos inferiores, e o trabalho do homem sobre o progresso no trabalho não ajudará em todo o caso".
No entanto, se uma pessoa não começar a trabalhar, não sabe que não consegue triunfar sobre a inclinação. Mas quando uma pessoa começa a andar na obra do Criador e faz o que pode fazer, então ele consegue oferecer uma verdadeira prece ao Criador para que o ajude.
Mas porque quereria o Criador que ele consagrasse uma verdadeira oração? Com carne e sangue, você pode dizer que ele quer ele faça um apelo genuíno porque quando uma pessoa faz um apelo genuíno pelo seu amigo, o seu amigo dá-lhe verdadeira gratidão. A carne e o sangue, que perseguem honra, a gratidão que ele lhe dá é como se estivesse rebaixando perante ele, e ele gosta.
Mas quanto ao Criador, precisará Ele de receber o respeito das pessoas? Então, porque é que o Criador pretende que uma pessoa realize uma oração sincera?
A questão é que é sabido que não há luz sem um Kli. É impossível uma pessoa ceder algo que é muito importante, e se não tiver desejo por certa coisa, ela vai desvalorizá-la e desfazer-se dela. Perder-se-á porque a necessidade por algo iguala o que ele precisa; isto dá a importância. Na medida do grau de importância, ele resguarda o presente de se perder, pois caso contrário tudo irá para as Klipot.
Isso é chamado de "amamentando as Klipot", o que significa que tudo vai para os vasos de recepção, que colocam sob a sua autoridade tudo o que uma pessoa minimiza em termos de Kedusha. Por isto sabemos porque uma pessoa deve começar o trabalho. Mas porque o Criador não dá força para completar o trabalho sozinho, sem a Sua ajuda?
É sabido o que O Zohar interpreta sobre o que os nossos sábios disseram: "Aquele que vem para ser purificado é ajudado". Ele pergunta: "Com o quê?" E diz: "Com uma alma santa", ou seja, que recebe iluminação de cima, que é chamada Neshama (uma alma), chamado de "alcançando Divindade", o que significa que ele está incluído no pensamento da criação de fazer bem às Suas criações.
Daqui resulta que por ter um Kli e um desejo por vasos de doação, ele recebe a luz, chamada Neshama. Assim, ambos são necessários. Por outras palavras, uma pessoa deve começar, e através disso recebe um Kli. E por ser incapaz de terminar, ele implora ajuda ao Criador e então ele recebe a luz.
Agora podemos entender o que está escrito: "Vem ao Faraó, pois eu endureci o seu coração e o coração dos seus servos, para que eu possa mostrar-lhes os Meus sinais no meio deles".
Uma pergunta surge: "Porque endureceu o Criador o coração do Faraó?" O texto responde: "Para que eu possa mostrar-lhes os Meus sinais no meio deles". E a interpretação é: "Porque endureceu o Criador o coração do homem e ele não consegue ganhar a guerra contra a inclinação, por si próprio? "
A resposta é: para que o homem implore ao Criador, e através disso tenha um Kli. E então o Criador será capaz de colocar as letras da Torá no seu interior, dentro do Kli. Esta é a alma que o Criador lhe dá como ajuda.
Isto é considerado: "A Torá e o Criador são um". "Meus sinais" refere-se às letras da Torá, como nos nomes do Criador. Isto é o "fazer bem às Suas criações", que é o pensamento da criação de fazer bem às Suas criações. Isto chega a uma pessoa especificamente quando ele tem um Kli, e este Kli chega através do endurecimento do coração, pois então há um lugar onde pode implorar ajuda ao Criador, e Ele ajuda-o com uma alma santa.
Agora podemos ver a questão de "Vem ao Faraó", significando nós os dois, juntos. Por outras palavras, uma pessoa deve começar e depois ver que não consegue derrotá-lo, e isto está implícito ao Moisés ter medo de se aproximar dele. E então o Criador disse: "Eis que eu estou contra ti, Faraó", significando que, em seguida, vem a ajuda do Criador. E com o quê? Com uma alma santa, como está escrito em O Zohar.
Daqui resulta que o endurecimento do coração, nas palavras: "Pois Eu endureci o seu coração", foi para criar um lugar para uma oração. E esta oração não é como uma de carne e osso, que quer respeito, realizada para ele ser respeitado. Pelo contrário, o propósito da oração é que ele tenha um Kli, uma necessidade da ajuda do Criador, pois não há luz sem um Kli. E quando uma pessoa vê que não se consegue ajudar de nenhuma maneira, então ele tem uma necessidade pela ajuda do Criador.
Este é o significado do que os nossos sábios disseram: "O Criador deseja a oração dos justos." Também aqui surge a pergunta: "Mas o Criador necessita que o homem se renda, que ele Lhe peça?" No entanto, dado que o Seu desejo é beneficiar as Suas criações, mas não há luz sem Kli, Ele implora a oração dos justos, pois através disso eles revelam os Kelim (vasos) nos quais Ele pode doar. Daí que, quando uma pessoa vê que não consegue superar o mal nele, este é realmente o momento para pedir a ajuda do Criador.
Agora podemos entender o que o Criador disse (Êxodo 6): "E eu vou tomar-vos como Meu povo, e eu serei o vosso Deus, e sabereis que eu sou o Senhor vosso Deus, quem vos tirou de debaixo das cargas dos Egípcios".
Em Masechet Berachot (38a), os nossos sábios escreveram sobre isto da seguinte forma: "Quem vos tirou de debaixo das cargas dos Egípcios". Os sábios ... assim disse o Criador a Israel: "Quando eu vos tirar, Eu farei algo para vos mostrar que fui Eu que vos tirei do Egipto, como está escrito: 'Que eu sou o Senhor vosso Deus, quem vos tirou''".
Isto significa que não basta ao Criador tirar o povo de Israel do Egipto, de terem sido libertados do tormento que ali sofreram. Quando se fala da obra do Criador, surge a pergunta: "Não bastou?" Agora eles foram libertados da escravidão do exílio, depois de não terem sido capazes de servir o Criador devido ao domínio do Faraó, e tudo o que eles construíram para si, independentemente da posição no trabalho, tudo foi engolido pela terra, como os nossos sábios disseram (Sutah pág. 11): "Pithom e Ramsés. Rav e Shmuel, um disse que o seu nome era Pithom. E porque era Ramsés o nome dela? Porque a cabeça dele Mitroses (estilhaça) primeiro". RASHI interpreta: "Quando eles construíssem algo, isso estilhar-se-ia e cairia. Eles reconstruíam, e voltava a cair. E um disse: "O nome dela é Ramsés, e porque era o nome dela Pithom? É porque primeiro é primeiro, foi engolido pela Pi Tehom (boca do abismo)".
Vemos, portanto, que não há disputa entre Rav e Shmuel sobre os factos, apenas no tocante à interpretação. O facto é que tudo o que eles construíssem cairia. Isto significa que de cada vez que eles construíram para si próprios uma estrutura no trabalho, os Egípcios vieram, ou seja, os pensamentos alienados dos Egípcios, e arruinaram todo o seu trabalho. Por outras palavras, todo o trabalho que eles fizeram com todo o seu esforço para superar e servir na obra de santidade foi engolido pelo chão.
Assim, todos os dias eles tinham que começar de novo, e parecia-lhes como se nunca estivessem envolvidos no trabalho de santidade. Além disso, cada vez que perspectivassem avançar, eles viam que não só não progrediam como até regrediam, dado que novas questões do género "quem" e "o quê" emergiam nas suas mentes.
Assim, devemos entender este êxodo do Egipto como eles tendo, finalmente, a capacidade de servir o Criador sem pensamentos alienados dos Egípcios. Assim, o que é que este conhecimento nas palavras: "E vós sabereis" nos vem dizer? Que devemos saber que foi o Criador que os libertou da terra do Egipto. E há mais sobre o qual devemos ponderar, dado que começámos a análise na escravidão no Egipto, quando eles estavam trabalhando no trabalho duro, e eles foram libertados disso, portanto que mais lhes faltou?
Mas o que é trabalho duro? Os nossos sábios explicaram o verso: "Todos os seus trabalhos que eles rigorosamente lhes impuseram" (Sutah 11b). "Rabbi Shmuel Bar Nahmany disse: 'Rabi Yonatan disse: ' Eles substituíram o trabalho de homens por trabalho de mulheres, e o trabalho de mulheres por trabalho de homens. E os Egípcios fizeram os filhos de Israel servir BeParech (com rigor).''Rabbi Elazar disse: Be 'Peh Rach (com uma boca suave]. "
Devemos entender também a questão do trabalho duro no trabalho de santidade. Devemos ter dois discernimentos:
1. O acto chamado de "a parte revelada", que a pessoa pode ver e onde não pode dizer que está enganando ou iludindo-se, pois não se pode dizer que há um engano sobre algo que é visivelmente aparente. Isto é assim porque com o acto de Mitzvot e o estudo da Torá, ele vê, e outros também podem ver, se está ou não realizando acções de Torá e Mitzvot.
2. A intenção. Isto é chamado de "a parte oculta", dado que os outros não conseguem ver a intenção por detrás dos seus actos. E também ele não consegue ver a intenção no acto, dado que é possível estar enganado sobre a intenção e desencaminhar-se, pois só nas coisas aparentes, chamado de "a parte revelada," todos conseguem ver a verdade. Mas o que não se pode confiar em si mesmo quando se trata de intenções no coração ou pensamento peca a mente. Daqui resulta que isto está escondido de si mesmo e dos outros.
Podemos agora interpretar o significado do trabalho duro, que se dizia ser "substituindo o trabalho de homens por trabalho de mulheres". “Trabalho de homens” significa que ele já é um Gever (homem), que ele consegue LeHitgaber (superar) o seu mal e envolver-se na Torá e nos Mitzvot em acção. Assim, o que deveria ele fazer quando já é chamado de "um homem", significando um homem de guerra, o qual pode lutar com o seu mal em acção? Agora é tempo de ele começar o seu trabalho no segundo discernimento, ou seja, no oculto, que é o objectivo. Por outras palavras, a partir daí ele deve tentar direccionar todas as suas acções para o fim de doar contentamento ao Criador e não para o seu próprio benefício.
E que fizeram os Egípcios, quando viram que ele era um homem que podia sair dos seus domínios e entrar na santidade? Trocaram o seu trabalho e deram-lhes trabalho de mulheres. Isto significa que todo o seu trabalho era trabalho de mulheres, ou seja, os Egípcios fizeram-nos pensar: "Quem precisa de intenções? As acções são o que conta, e aqui, nas acções, tu terás sucesso, como podes ver: és um homem, consegues prevalecer sobre o mal em ti e envolver-te na Torá e nos Mitzvot em cada detalhe e precisão, e deves colocar todos os teus esforços em ser mais meticuloso na Torá e nos Mitzvot.
"No entanto, não deverias envolver-te em intenções! Este trabalho não é para ti, mas apenas para uns poucos escolhidos. Se começares com o trabalho de doação, ou seja, notando que tens que direccionar tudo para ser com o fim de doar, tu não terás a energia para ser tão meticuloso na acção revelada, onde não te enganarás a ti mesmo, porque vês o que estás fazendo. Portanto, é aí que tu podes expandir em cada detalhe e precisão nas tuas acções.
"Mas no que diz respeito às intenções, não tens qualquer prova real. Assim, aconselhamos-te para o teu próprio bem, e não penses, Deus nos livre, que nós queremos desviar-te do trabalho de santidade. Pelo contrário, queremos que subas os graus de santidade ".
Isto é chamado de "substituindo o trabalho de homens por trabalho de mulheres". Onde eles deveriam ter feito um trabalho que pertence aos homens, eles explicaram ao povo de Israel que seria melhor para eles fazerem trabalho de mulheres, ou seja, aquilo que pertence às mulheres.
"E o trabalho de mulheres por trabalho de homens" significa que essas pessoas não têm o poder de superar. Pelo contrário: "Eles são tão frágeis como uma mulher", significando que eles eram fracos em cumprir a Torá e os Mitzvot, e não tiveram a força para cumprir e observar os Mitzvot, mesmo sob a forma revelada, que é chamada de "só na acção". E todo o trabalho de superação foi apenas sobre a acção, não sobre a intenção.
Os Egípcios chegaram junto a eles e fizeram-nos pensar: "Não queremos interromper o vosso santo trabalho. Pelo contrário, queremos que sejais verdadeiros servos do Criador. Por outras palavras, vemos que gostaríeis de servir na obra de santidade, por isso estamos aconselhando-vos que a coisa mais importante não é a acção; é a intenção. Portanto, em vez de vos esforçardes a superar na acção, acostumando-vos a superar o vosso corpo, para estudar mais outra hora ou para rezar mais meia hora, tentando responder "Bendito seja Ele" e "Bendito seja o Seu Nome" e "Amém", já para não falar no meio da repetição do cantor. Quem precisa disso?
"O objectivo principal é para o Criador. É aí que precisais de concentrar todos os vossos esforços. Porque desperdiçar a vossa força em coisas insignificantes? Na verdade, a Halacha (lei religiosa) diz que deveis cumprir todas aquelas pequenas coisas, mas este trabalho não é para vós, é trabalho para as mulheres. Vós precisais de vos envolver em trabalho de homens. O facto de que desejais participar somente em acção é inconveniente para vós. Deveis concentrar-vos principalmente sobre a intenção, o que significa usar toda a energia que tenhais com a finalidade de que tudo seja para o Criador. No entanto, não penseis nem por um minuto que estamos tentando, Deus nos livre, interromper o vosso trabalho do Criador. Nós queremos o contrário, que subas a escada da santidade e atingeis a perfeição, ou seja, que todas as vossas acções sejam apenas para doar contentamento ao vosso Criador".
E dado que eles estavam no grau chamado "mulheres" e ainda não possuíam a força para superar, nem mesmo na parte da acção (considerado que eles eram tão frágeis como mulheres), os Egípcios fizeram-lhes ver que o importante era direccionar para Lishma (pelo Seu nome). Com isso, os Egípcios certificaram-se que eles não teriam a força para continuar e superar no trabalho de santidade.
É como Maimónides diz, quando escreveu (Hilchot Teshuva [Leis do Arrependimento], Parasha nº 10): "Os sábios disseram: 'A pessoa deve sempre envolver-se na Torá, mesmo em Lo Lishma (não pelo Seu nome), dado que a partir de Lo Lishma ela chegará a Lishma (pelo Seu nome)". Portanto, ao ensinar os mais pequenos, as mulheres e os analfabetos em geral, eles devem ser ensinados a trabalhar a partir do medo e a receber recompensa. Quando eles ganharem conhecimento e adquirirem muita sabedoria, ser-lhes-á mostrado esse segredo pouco a pouco, e devem ser habituados a isso com facilidade, até alcançarem-no, e conhecerem-No e servirem-No por amor".
Os Egípcios aconselharam aqueles que estavam sob o discernimento de mulheres a não seguir as palavras de Maimónides. Pelo contrário, pese embora estarem no grau de mulheres e pequenos, eles fizeram-lhes compreender que eles deveriam imediatamente começar a trabalhar com o propósito Lishma. Com isso, os Egípcios certificaram-se de que eles permaneceriam no seu domínio, fora de Kedusha (santidade).
Assim, isto é chamado de "trabalho duro", como Rabbi Shmuel Bar Nahmany interpretou: "BaParech (por trabalho) significa BePricha (frágil/desintegração)". E RASHI interpretou: "na desintegração e quebra do corpo e da cintura". A razão é que ao substituir o trabalho de homens por trabalho de mulheres e o trabalho de mulheres por trabalho de homens, será como explicámos, dado que o trabalho de homens era superar e avançar e direccionar para a intenção Lishma, mas eles enfraqueceram-nos neste trabalho, porque os Egípcios detiveram este trabalho. Assim, além de terem de trabalhar em superação para conseguirem direccionar o objectivo para doar, eles tiveram mais trabalho por os Egípcios lhes terem feito pensar que todo este trabalho era redundante, que o trabalho de doação não tinha a ver com eles, mas apenas com uns poucos escolhidos.
Isto é chamado de "trabalho duplo": 1) esforço para direccionar para doar, e 2) lutar contra eles e dizer que não é verdade, que eles serão capazes de alcançar Lishma, e não como os Egípcios disseram, que eles deveriam fazer trabalho de mulheres. E foi esta a intenção total dos Egípcios, evitar que eles se aproximassem do trabalho de doação.
Além disso, eles substituíram o trabalho de homens com o de mulheres, o qual, como dissemos, é inútil, porque cumpre a Torá e os Mizvot apenas em acção. Isto significa que toda a sua guerra contra a inclinação é apenas sobre a acção, e não, como Maimónides diz, que o trabalho de mulheres deve consistir apenas em fazer coisas e não em ensinar-lhes que devem seguir a intenção Lishma.
Portanto, quando os Egípcios chegaram, disseram-lhes que tinham que fazer trabalho de homens, ou seja, intencionar para doar, foi trabalho duro para eles: 1) Relativamente a Lishma, vós sois totalmente incapazes disso; 2) Superando o corpo e cumprindo Mitzvot práticos foi mais difícil para eles, antes de os pensamentos alienados dos Egípcios terem chegado e terem feito pensar que o acto de Mitzvot sem intenção era completamente inútil e terem degradado a importância da Torá e dos Mitzvot em Lo Lishma. Assim, agora, através dos Egípcios, o trabalho sob a forma de mulheres foi degradado, e isso provocou-lhes trabalho duro, assim como foi dito que é a quebra do corpo e da cintura.
Resulta de tudo o exposto que existem três significados para a palavra Perech (labor/trabalho duro), e no entanto não há qualquer contradição entre cada interpretação. Pelo contrário, todas as três coisas estavam lá, e cada um interpretou de acordo com a sua própria questão:
- Na primeira interpretação de Parech, Rabbi Elazar diz que é "em Pe Rach (boca suave) ".
- Rabbi Shmuel Bar Nahmany disse: "Em Pericha", que significa quebrar.
- Rabbi Shmuel Bar Nahmany: "Rabi Yonatan disse: 'Eles substituíram o trabalho de homens por trabalho de mulheres, e o trabalho de mulheres por trabalho de homens."
Contudo, todos eles interpretam o trabalho duro como Pericha (quebradiço), o que significa a quebra do corpo. E a razão por ser trabalho duro ao ponto de eles lhe terem chamado: "Trabalho que quebra o corpo e a cintura" é porque eles substituíram o trabalho de homens por trabalho de mulheres, e o trabalho de mulheres por trabalho de homens. Isso causou-lhes o trabalho duro.
Ainda assim, porque ouviram eles as opiniões dos Egípcios? É porque eles falaram a Israel com Peh Rach (boca suave), ou seja, que os pensamentos dos Egípcios chegaram a Israel com uma boca suave. Quer dizer, tudo o que lhes disseram para fazer não era para desviá-los de servir o Criador, Deus me livre. Pelo contrário, eles queriam orientá-los a andar nos caminhos do Criador com êxito, de modo a não perderem tempo em vão, ou seja, que não vissem avanço no trabalho de santidade. E dado que lhes falaram com uma boca suave, foi-lhes difícil superar estes pensamentos.
Isto implica que quando ele diz que eles substituíram o trabalho de homens com o de mulheres, ele explica porque ouviram eles os Egípcios. A resposta é: por causa de Perech, por terem falado a Israel com Pe Rach (boca suave). Assim, é pelas duas razões acima que ficaram a trabalhar em trabalho duro, como Rabbi Shmuel Bar Nahmany diz: Perech significa o trabalho de Pericha (quebra), que é um trabalho que quebra o corpo.
Deste modo, devemos compreender por que razão não é suficiente para o povo de Israel que o Criador os tenha tirado do Egipto, da sua escravidão para que se pudessem envolver em Torá e Mitzvot, cada um de acordo com a sua realização, e a Klipa do Egipto não teve a força para resistir ao seu trabalho.
De facto, quão grande é o milagre e quem pode apreciar a importância do assunto? Quando uma pessoa considera a quantidade de sofrimento e tormento que sente estando no exílio sob a escravidão de Faraó Rei do Egipto, e na medida da escuridão de Pithom e Ramsés que ele assume no seu coração, que eles estavam construindo. E agora, os portões da Klipa do Egipto foram abertos diante deles de uma só vez, e eles chegaram por si próprios. Isto significa que agora eles ficaram livres para se envolver na Torá e Mitzvot como quisessem, sem quaisquer interrupções. Que alegria e euforia que pessoa tem quando compara o tempo da escuridão com o momento em que ilumina. É como se diz: "Aquele que separa a escuridão da luz".
De acordo com o anterior, devemos compreender a necessidade de saber que somente o Criador os liberta das cargas dos Egípcios, como os nossos sábios disseram: "Quando eu vos tirar, eu farei algo para vos mostrar que fui Eu que vos tirei do Egipto, como está escrito: 'Que eu sou o Senhor vosso Deus, quem vos tirou de debaixo das cargas dos Egípcios".
A questão é que devemos sempre lembrar-nos do objectivo que devemos alcançar. E dado que o propósito da criação é fazer bem às Suas criações, o nosso objectivo é receber a alegria e o prazer que Ele preparou em nosso nome. Mas para efeitos de correcção, chamada Dvekut (adesão), a qual é sobre equivalência de forma, temos que trabalhar para obter os vasos de doação.
No entanto, isto é apenas a correcção da criação, não é a plenitude. Plenitude significa conhecer o Criador, conhecendo e alcançando a Torá, que é chamada de "os nomes do Criador".
Assim, não basta termos já a força para cumprir a Torá e os Mitzvot sem interrupções, pois esta é apenas uma correcção, não o objectivo completo. O objectivo completo é obter o conhecimento da Torá, como em: "A Torá, Israel, e o Criador são um". É por isso que os nossos sábios disseram: "Isto é o que o Criador disse a Israel: " e sabereis que eu sou o Senhor vosso Deus, quem vos tirou de debaixo das cargas dos Egípcios", Eu e não um mensageiro". Isto significa que cada um deve chegar a conhecer o Criador, e a isto é chamado "Torá", os nomes do Criador.
Rabi Baruch Ashlag (Rabash)
Parte do Livro, Escritos Sociais