Há uma alegoria sobre amigos que se
perderam no deserto, esfomeados e com sede. Um deles encontrou um acampamento
preenchido abundantemente com todas as delícias. Ele recordou-se de seus pobres
irmãos, mas já se havia afastado deles e não sabia do seu paradeiro. O que fez
ele? Ele começou a gritar alto e a soprar o chifre; talvez seus pobres e
esfomeados irmãos pudessem escutar sua voz, o aproximar e chegarem a esse
abundante acampamento que está preenchido com todas as delícias.
Assim é a questão perante nós: Perdemo-nos
num terrível deserto juntamente com toda a humanidade, e agora encontrámos um
grande e abundante tesouro, nomeadamente os livros da Cabala no tesouro. Eles
satisfazem nossas almas desejosas e preenchem-nos abundantemente com exuberância
e contentamento; somos saciados e ainda há mais.
Todavia, recordamos nossos amigos, que
foram deixados no terrível deserto. Há uma grande distância entre nós, e
palavras não a conseguem cruzar. Por esta razão, montámos este chifre para
soprar alto para que nossos irmãos possam escutar e se aproximar e serem tão
felizes como nós somos.
Sabei, nossos irmãos, nossa carne, que a
essência da sabedoria da Cabala é o conhecimento de como o mundo desceu do seu
lugar elevado e celestial, até ter alcançado nosso ignóbil estado. Esta
realidade era necessária, pois “o fim de uma acção esta no pensamento inicial,”
e Seu pensamento actua instantaneamente, pois Ele não precisa de instrumentos
para trabalhar como nós. Assim, fomos emanados na Infinidade em absoluta
perfeição desde o início, e de lá viemos para este mundo.
É deste modo muito fácil encontrar todas
as futuras correcções, que estão destinadas a vir, dos mundos perfeitos que nos
precederam. Através disso saberemos como corrigir nossos caminhos doravante, como
a vantagem do homem sobre a besta, onde o espírito da besta desce, ou seja que
vê somente de si mesma para a frente, sem o intelecto ou sabedoria para olhar
para o passado de modo a corrigir o futuro.
A vantagem do homem sobre ela é que o
espírito do homem ascende ao passado, e olha para o passado como um olha para o
espelho e vê os seus defeitos de modo a corrigi-los. Similarmente, a mente vê
aquilo que ela passou, e corrige suas futuras condutas.
Logo, as bestas não evoluem; elas são
imóveis, no mesmo estado em que foram criadas, pois elas não têm, como tem o
homem, o espelho através do qual corrigir as coisas e gradualmente evoluir. O
homem desenvolve-se dia após dia até que seu mérito seja sentido e assegurado,
e ele montará altos planetas.
Mas tudo isso se refere à natureza fora de
nós, a natureza da realidade circundante, nossos alimentos e afazeres mundanos.
Para isto, a mente
natural é suficiente quanto baste.
Contudo, internamente, nos nossos seres, embora
evoluamos um pouco, evoluímos e melhoramos ao sermos empurrados por trás
através de sofrimento e derramamento de sangue. Isto assim é porque não temos
táctica pela qual obter o espelho para ver dentro do homem, que eles tinham em
passadas gerações.
É tanto quanto o mais a respeito do
interior das almas e dos mundos, e como eles chegaram a tão triste ruína
como a de hoje, onde não temos segurança nas nossas vidas. Seremos sujeitos a
todos os tipos de massacres e morte em anos vindouros, e todos admitem que não
têm conselho para o prevenir.
Imaginai, por exemplo, que certo livro
histórico havia sido encontrado hoje, descrevendo as últimas gerações a dez mil
anos daqui. Como sentimos, a lição do sofrimento e tormenta certamente serão
suficientes para os reformar de uma boa maneira.
E estas pessoas têm perante elas boas
ordens, suficientes para fornecer certeza e complacência. E no mínimo, garantir
suas vidas diárias em paz e sossego.
Não há dúvida que se certo sábio nos
oferecesse um livro da política e conduta pessoal, nossos líderes procurariam
todo o conselho para ordenar a vida em correspondência, e não haveria “nenhum
clamor em lugares amplos.” Corrupção e o terrível sofrimento cessariam, e cada
coisa chegaria pacificamente ao seu lugar.
Agora, distintos leitores, este livro
repousa aqui perante vós num armário. Ele afirma explicitamente toda a sabedoria
do estadismo e as condutas da vida pública e privada que existirão no fim dos
dias, ou seja os livros da Cabala [no manuscrito, antes do texto que aqui
começa, estava escrito, “Eles são a perfeição que precede a imperfeição”]. Nele,
os mundos corrigidos que emergiram com perfeição estão dispostos, como se diz,
a perfeição emerge primeiro do Criador, então nós a corrigimos e chegamos à
perfeição que existe no Mundo Superior, emergindo desde Ein Sof [infinito],
como em, “o fim de uma acção está no pensamento inicial.” Porque o incompleto
se prolonga gradualmente a partir do completo, e não há ausência no espiritual,
todos eles permanecem existindo e descritos na sua completa perfeição, no
particular e no geral, na sabedoria da Cabala.
Abram estes livros e descobrireis todas as
boas ordens que aparecerão no fim dos dias, e descobrireis dentro delas a boa
lição pela qual ordenar os assuntos mundanos hoje também, pois podemos aprender
do passado e com isso corrigimos o futuro.
Um Chamado para os Escolhidos Estudarem a
Cabala
Eu, o escritor, conheco-me e ao meu lugar,
que não estou entre os melhores na espécie humana. E se um tal como eu hoje
trabalhou e achou tudo isto nos livros ocultos dentro dos nossos armários, não
há sombra de dúvida que se os escolhidos na geração mergulharem nestes livros,
tanta da felicidade e tesouro estarão disponíveis para eles e para o mundo
inteiro.
Minha Voz que Está no Shofar [Chifre],
Porque Veio Ela?
Eu vi tudo isso, e não mais me consigo
abster a mim mesmo. Resolvi divulgar minhas observações do que descobri escrito
nesses livros, a respeito das condutas da correcção de nosso futuro definido. E
saio e evoco aos povos do mundo com este chifre. Acredito e estimo que seja
suficiente para reunir todos os escolhidos para começarem a estudar e mergulhar
nos livros, para que se possam sentenciar a si mesmos e ao mundo inteiro a uma
escala de mérito.
Rav Yehuda Ashlag (Baal HaSulam)